domingo, novembro 22, 2009

Um Bruto Muito Feio

Castle Rock é a cidade imaginária situada algures na Nova Inglaterra ou no Maine aonde Stephen King, sujeita os seus personagens a experiências extremas da ordem do sobrenatural.
«The Sun Dog», título muito mais interessante do que a sua tradução portuguesa («Um Bruto Muito Feio»), data de 1990 e tem um miúdo de quinze anos como protagonista. Kevin Delevan acaba mesmo de os comemorar, recebendo como prenda uma Polaroid Sun 660 com a qual logo decide começar a praticar o seu gosto pela fotografia. O pior é que a máquina traz consigo uma característica muito peculiar: em vez do que se coloca em frente à sua objectiva, o que as imagens revelam é um cenário sempre igual, aonde um cão de aspecto inquietante se começa a aproximar.
Para esclarecer tão estranho fenómeno, Kevin procura Pop Merrill, o proprietário de uma loja de quinquilharia, a Emporium Galorium, conhecido pela sua sovinice, pela capacidade de enganar forasteiros e por compreender os mais estranhos mecanismos mecânicos.
O que Kevin desconhece é a outra vertente da actividade de Pop: clandestinamente costuma emprestar dinheiro às enrascadas pessoas da cidade, que o detestam, mas nele sempre procuraram a bóia de salvação, quando se encontravam à beira de se afogarem. Muitos anos atrás, no início da sua vida de casado, também John Delevan, o pai de Kevin, procurara solução para a situação delicada em que se encontrara, quando, pela última vez, fizera uma aposta ao jogo.
Agora, sem Kevin o compreender, Pop está a congeminar a possibilidade de fazer um óptimo negócio com a câmara de Kevin, porquanto conhece uns quantos lunáticos, excitados com tudo quanto cheire a sobrenatural, e dispostos a pagarem-lhe dezenas de milhares de dólares por um objecto como aquele. Ao contrário o rapaz, à medida que vai tirando fotografias, só se pode inquietar com a aproximação cada vez mais intimidante do cão em causa de quem tira a fotografia. Daí que, acompanhado do pai, vá uma noite a casa de Pop disposto a estilhaçar a máquina no cepo, que aquele tem nas traseiras. É precisamente nessa noite que Pop troca a máquina de Kevin por outra, entretanto adquirida no armazém em frente, iludindo pai e filho quanto ao efectivo destino do diabólico aparelho.
O engano de Merrill é que ninguém lhe comprará o objecto e ele vê-se progressivamente possuído de um sortilégio maligno a partir do mundo sobrenatural de onde aquele cão (ou será um lobisomem?) estará prestes a emergir.
Por seu lado, Kevin tem sucessivos pesadelos, que o levam a concluir pela ilusão em que, com o pai, caíra: a máquina continua a manter o potencial de destruição, que tanto o assustara. Sem se darem conta disso, Pop enganara-os.
Quando Kevin e o pai voltam ao Emporium Galorium, eles são vistos pelo usurário, que se esconde num beco. E já é tarde demais: ele tirou a foto final e trouxe a besta para esta dimensão da realidade.
Numa sequência horrível Pop morre com queimaduras nas mãos suscitadas pela polaróide, que nelas se lhe derrete e acaba mesmo decapitado. Mas Kevin, que quase sem compreender para quê, convencera o pai a comprar outra câmara igual, consegue aprisionar o monstro na imagem oportunamente captada nesse instante. Pelo menos por ora, o monstro regressa à bidimensionalidade.
No epílogo Kevin recebe um novo computador no seu 16º aniversário. Altura em que conclui não se ter livrado da ameaça, porquanto o texto saído do processador respectivo é completamente diferente do por ele teclado. E avisa-o quanto à iminência do regresso do bruto muito feio...

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