quarta-feira, março 19, 2008

«POLUMGLA», UM FILME DE ARTEM ANTONOV

Começa por existir um hospital militar onde os feridos se entusiasmam com as imagens cinematográficas de bailarinas de cabaré. Mas, logo sobrevém um profundo silêncio perante as da guerra, que eles terão experimentado da pior maneira até há pouco.
Resgatando as suas próprias memórias de guerra - mormente, quando vira trinta dos seus amigos, serem assassinados a sangue-frio por um nazi, que se ia acompanhando à harmónica enquanto cumpria a sua miserável tarefa - o tenente Grigori Anokhine evade-se desse estabelecimento para regressar à frente do combate antifascista.
Não vai longe: capturado e em vias de ser incriminado devido a falsificação de documentos, o militar vê ser-lhe atribuída uma missão bastante complicada: chefiar um grupo de prisioneiros alemães, fazendo com que eles ergam uma torre de rádio no meio da taiga para que os Aliados possam colher referências adequadas para alimentarem as linhas de reabastecimento do Exército Vermelho.
Se, a princípio, Grigori sentia um profundo ódio por aqueles prisioneiros, que personificavam tudo quanto aprendera a esmagar, depressa ele se deixa conduzir por um arreigado humanismo, que muito desgostará o espião de serviço, o seu ajudante Tchoumatchenko.
Mas que poderia ele fazer se, depois de uma recepção glacial dos aldeões de Polumgla, logo as viúvas carenciadas de afecto, começam a requisitar os prisioneiros para o conforto das suas alcovas?
Grigori compreende tanto melhor a situação, quanto ele próprio se prende de afectos com a sobrinha da velha xamã Loukeria, que o cura do alcoolismo graças às suas sortes mágicas…
A pouco e pouco a torre é erguida sem que qualquer dos membros do seu grupo especial perca a vida ou sequer se lesione.
Mas ele não poderá evitar o que já estava há muito decidido: acabado o trabalho, o general Batiouk chega com as suas tropas para fuzilar sumariamente os alemães. Que terão cumprido uma tarefa inglória, já que essa torre para nada servirá, planeando-se a construção de outra a 600 quilómetros. Com outros prisioneiros, ainda não riscados das respectivas listas…
Num filme, que esteticamente remete para um imaginário do antigo cinema soviético, com algumas imagens muito belas à mistura - as passadas, por exemplo, com as auroras boreais, nas quais os alemães vêem uma efémera esperança de se tratar da arma milagrosa prometida por Hitler - «Polumgla» revela, sobretudo, um profundo humanismo já que demonstra como, independentemente, do tipo de regimes, que os empurra para os teatros de guerra, os soldados acabam por ser muito semelhantes quanto às suas preocupações e ambições...
É claro que, comparando um filme russo com um norte-americano sobre o mesmo tema as diferenças são abissais. Sendo o povo russo muito dado à contemplação, «Polumgla» chega a ser exasperantemente lento na demonstração de um tempo de impasse em relação ao que se vai passando na frente de batalha.
Mas, sabendo-se que tão escassos soldados alemães terão regressado das prisões soviéticas, o filme consegue ser convincentemente realista, quando se define quanto ao destino desses prisioneiros...

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