Em Fevereiro de 1987 está a iniciarse uma importante reunião em Hong Kong: John Singlaub, um general fanaticamente anticomunista, e que participara na fundação da CIA, está a proceder a discussões quanto ao que irá fazer com o tesouro em vias de ser descoberto nas Filipinas, constituído por lingotes de ouro e platina pilhados pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundical, enquanto ocupavam a China.
A expectativa era grande quanto ao conteúdo desse tesouro, já que ele resultara ainda de outras pilhagens cometidas pelos nipónicos noutros teatros de guerra da época - a Indochina, Singapura e as próprias Filipinas.
Ora, as tropas japoneses pilhavam sistematicamente todos os países, que invadiam e muitas dessas riquezas não tinham voltado a aparecer.
Mas John Singlaub não conta devolver essas riquezas aos seus antigos e legítimos proprietários:
conta utilizá-las de outra forma completamente diferente: até porque reinserir no mercado do ouro toda essa riqueza teria efeitos imprevisíveis para a economia ocidental.
Mas preocupa-o uma possibilidade: que a fortuna de Ferdinando Marcos, acabado de ser derrubado, não proviesse apenas da sua cleptocracia congénita, mas tivesse tido origem nesse ambicionado tesouro, que tivesse descoberto antecipadamente.
Até então, Singlaub distinguira-se no financiamento de diversas forças anticomunistas um pouco por todo o lado e de forma mais ou menos ilícita.
É por isso que a sua chegada a Hong Kong coincide com a sua convocatória pelo Congresso para ser ouvido no âmbito do escândalo Irangate, em que se comprovava a sua participação no financiamento dos Contra nicaraguenses. O tesouro japonês permitir-lhe-ia garantir formas
de financiamento alternativas a esses e outros projectos de subversão política. Agora, a obrigação em regressar a Washington para ser interrogado, impede-o de continuar à procura de tal pecúlio. Que se revela, afinal, injustificada quimera: no buraco escavado em Manila nada se encontra.
É que outro terá sido o destino de tais riquezas: Singlaub tê-las-á procurado com um atraso de diversas décadas.
Ele deveria ter-se interrogado, porque é que, em 1948, e com ordens emanadas a partir da Casa Branca, dois notórios criminosos japoneses - Yoshio Kodama e Rioyshi Sasakawa - são libertos por MacArthur, depois de terem sido condenados à forca devido às suas comprovadas malfeitorias.
Teria, assim, compreendido, que pressionado pelo avanço da revolução comunista na China, e vendo o Japão derivar perigosamente na mesma direcção, a CIA tenha decidido pressionar a Casa Branca para libertar os que detinham o conhecimento da origem desse tesouro e os obrigassem a participar com ele no esforço de financiamento das suas acções clandestinas um pouco por toda a Ásia.
Os dois criminosos mostraram-se reconhecidos. O tesouro ter-lhes-á servido para se afirmarem como chefes incontestados na Máfia japonesa (os Yakusa) e para estarem por trás de muitas das acções anticomunistas montadas na Ásia desde então.
Quando, em 1960, o líder socialista japonês é assassinado, quando discursava, está o dinheiro de Kodama por trás dessa operação.
Por outro lado, o seu cúmplice, Sasakawa vai-se proclamando como o fascista mais rico do mundo, enquanto controla o mercado das apostas no arquipélago e se faz fotografar ao lado de Reagan, de Thatcher ou de João Paulo II como se se tratasse de personagem respeitável.
A maior parte do tesouro japonês terá, afinal, financiado a ascensão de Kodama e de Sasakawa no mundo do crime japonês e para financiar as actividades clandestinas da CIA um pouco por toda a Ásia.
O que Singlaub desconhecia… mas com que decerto não deveria ficar deveras preocupado. Afinal outros teriam usado o tesouro para os fins abjectos, que ele pretendia igualmente financiar...
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