terça-feira, abril 01, 2008

GINÁSIO ÓPERA INAUGURA COM «OTHELLO» A NOVA TEMPORADA

No dia 29 de Março inaugurou-se a 5ª temporada de Ópera-Video promovida por uma das mais bem organizadas instituições melómanas do nosso país: o Ginásio-Ópera. De facto, cada vez mais ambiciosos nos seus objectivos, os responsáveis de tal estrutura acabam de assinar um protocolo ppor três anos com a Ordem dos Médicos para se responsabilizarem pela dinamização cultural dos seus espaços. O que garante uma auspiciosa convergência entre a arte do bel canto e a da gastronomia aí assumida pelo Chefe Luís Suspiro.
Para conferir um simbolismo ainda mais consequente a esta inauguração teria valido a pena convocar a obra de Rossini para a abrilhantar, tendo em conta quão inspirado foi esse compositor nas artes culinárias. Mas a opção por «Otelo» na versão composta por Giuseppe Verdi e Arrigo Boito não deixou de sugestionar muito positivamente os espectadores presentes.
Na Conferência de apresentação desta obra, o presidente do Ginásio Ópera, João Maria de Freitas Branco, referiu haver um antes e um depois de William Shakespeare. Porque ele terá concentrado na sua obra uma grande parte dos temas universais e intemporais, que nos continuam a influenciar-nos nos dias de hoje. Em Iago, por exemplo, está bem representada a demagogia tão frequente nos políticos de hoje, quando convencem as pessoas a reagirem contra corrente aos seus interesses próprios. E é isso que sucede com o mouro Otelo, que, apesar de chefe militar carismático, se deixa enlear nas pérfidas insinuações do seu cortesão ao ponto de acreditar no adultério da inocente Desdémona.
Outra das curiosidades da sessão foi o desempenho do papel de chefe militar por outro, Frederico Almendra, que costuma liderar militares portugueses em missões de alto risco na Bósnia, no Iraque e no Afeganistão.
Na sua estreia oficial em público, o tenor terá justificado o assumido arrojo do orador para interpretar as exigentíssimas árias desta ópera, porquanto requerem um tenor com suficiente flexibilidade vocal para corresponder num registo mais baritonal como o almejado pelo compositor.
A outra grande descoberta da sessão foi a soprano brasileira Taiana Froes que, recentemente instalada entre nós, promete vir a enriquecer a diversidade de opções femininas para espectáculos operáticos que, entre nós, se organizem…
Passado o repasto, que teve de positivo a originalidade das propostas do conceituado chefe, mas de ambíguo o seu dilatado ego, seguiu-se a projecção da versão filmada da obra de Verdi, tal qual foi dirigida por Georg Solti no Convent Garden em 1992.
Plácido Domingo e Kiri Te Kanawa estavam nos momentos mais vibrantes das respectivas carreiras e credibilizam o carácter excepcional de um espectáculo, que ainda contava com Serguei Leifenkus para esse Iago, por quem as certezas se perdem e as dúvidas se transformam em intenções assassinas.

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