domingo, março 16, 2008

A IMPORTÂNCIA DO ESFORÇO DE BARENBOIM E DE SAID

O excelente documentário, que Paul Smaczny realizou sobre a Orquestra West Eastern Divan, e os seus dois criadores, Daniel Barenboim e Edward Said é elucidativa sobre a generosidade de um projecto, que bem merecedor seria de um Nobel se a Academia norueguesa não andasse algo distraída.
O título do filme é, por si só, esclarecedor quanto aos objectivos de tal orquestra. »Knowledge is the Beginning»: quando dois povos, com a mesma origem semita, viram costas e andam durante gerações sucessivas a digladiarem-se, faz todo o sentido a criação de pontos para que se voltem a olhar de frente e a conhecerem-se.
Nele vemos Edward Said a refutar que possa haver quem avoque a si o exclusivo do sofrimento. Por isso é ele o grande entusiasta da visita da orquestra ao campo de Buchenwald. Porque conhecer o sofrimento do outro acaba por ser o primeiro passo para o compreender e para com ele criar uma empatia.
A ideia de uma orquestra com jovens árabes, palestinianos e israelitas, todos a partilharem a paixão pela música e a unirem os seus talentos para interpretarem as grandes obras do reportório clássico internacional pode não alterar em nada a política dos governos do Médio Oriente. Mas pode, pelo menos, levar a que um crescente número de jovens salte o abismo mental em que foram educados ao longo de muitos anos e se vão criando as condições para a paz.
O que Barenboim mais teme é a sua presente condição de solitário líder do projecto, agora que o seu cúmplice já foi levado pela leucemia. Porque, é ele próprio a reconhecê-lo, um projecto com esta relevância só ganha sentido, quando há uma direcção partilhada entre militantes dã causa da paz de ambos os lados..
Mas, em Sevilha, aonde a orquestra costuma ter os seus workshops de Verão, ele mantém as sessões de discussão política dantes animadas por Said. E é numa delas, que o ouvimos, com evidente lucidez, a desprezar o conceito de «tolerância». Por comportar uma carga de menorização do outro, que não será aceitável…
Ainda que subvalorizando algumas questões de princípio, há a urgência em pacificar os antagonistas de ambos os lados. E esta orquestra está, à sua dimensão, a concretizar o sonhos dos seus criadores...

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