terça-feira, setembro 25, 2007

«Ubik»: um surpreendente romance de Philip K, Dick

Joe Chip chega a Des Moines em 1939, quando a Segunda Guerra Mundial está no início. E vai encontrar aí os colegas com quem vivera a explosão em Luna, pela qual o tenebroso Ray Hollis terá colocado fora de serviço a maioria dos Inerciais da Sociedade de Prudência de Glen Runciter.
Recuados no tempo quase sessenta anos, os sobreviventes de tal atentado andam desnorteados a ver alguns deles definharem até se reduzirem a cinzas e sem saberem qual a melhor estratégia reactiva. Pretenderiam regressar ao seu presente, aquele distante 1992 em que combatiam telepatas e precogos apostados em se infiltrarem em organizações com propósitos ilícitos. Um tempo, também, em que tudo se paga, até o simples pedido para abertura da porta do apartamento obrigava ao pagamento de uma moeda numa ranhura.
E existe um elixir, que pode ter algum efeito na contenção dessa imparável regressão do tempo: é Ubik, o mesmo termo que aparece, transversalmente, nas várias épocas como sinónimo de vários produtos de consumo comum. E que dá nome a este título de Philip K. Dick, publicado em 1969.
Um livro estranho e imaginativo que, com uma ou outra incongruência, até vence a prova do tempo…
O maior contratempo para os protagonistas é a morte de Glen Runciter, esse líder que a todos orientava com a ajuda das opiniões da mulher, Ella, cuja morte precoce não impedia a sua intervenção a partir do seu limbo criogénico em que é mantida num Moratório suíço.
Mas a história complica-se, quando Joe Chip vai encontrando mensagens de Glen Runciter a inverter as evidências mais óbvias: ele estaria vivo e seria todo o grupo de Inerciais quem estaria morto e conservado em gelo no mesmo Moratório em que está, igualmente, Ella Runciter.
Há também Pat, a jovem inercial de grande talento, contratada pela Glen Runciter Associates para impulsionar a luta contra precogos e telepatas, mas com provável influência em tudo quanto doravante iria ocorrer.
A sessenta páginas do final do livro não se faz qualquer ideia de como Dick irá desatar os muitos nós semeados pela sua narrativa. A essa distância o leitor sente-se tão perdido no fio da história como esse Joe Chip, esse líder improvável da Glen Runciter Associates, que não consegue ver para ele um caminho de saída, quanto mais transmiti-lo aos demais.
Então sucede-se um conjunto de revelações, que clarificam tudo: Joe está, de facto, no Moratório de Zurique depois do atentado, que vitimara todos os colegas. Mas ali não é Hollis a sua maior preocupação, nem essa Pat, que era dele uma agente infiltrada. O maior desafio é resistir a um jovem adolescente, igualmente no limbo criogénico, e disposto a nele se manter alimentando-se vampiricamente do que dos vizinhos resta. Daí a intervenção exterior do seu patrão a dar-lhe as vias para essa periclitante salvação...

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