sexta-feira, dezembro 25, 2020

(DIM) O Céu da Meia Noite, George Clooney, 2020

 

As diversas causas em que George Clooney se tem empenhado tornam-no particularmente simpático para quem se identifica com elas, razão porque há algum constrangimento em levantar reservas ao mais recente dos seus filmes.

Estreado esta semana na Netflix The Midnight Sky insere-se no género da ficção científica ao basear-se num romance de Lily Brooks-Dalton. O problema de acabarmos a visualização com a sensação de nos saber a pouco dever-se-á precisamente às limitações de uma narrativa, que facilmente sintetiza-se assim: três semanas de pois de um evento apocalítico para o nosso planeta, um sobrevivente procura alertar a tripulação de uma missão espacial instando-a a retroceder até ao planeta K-23, recentemente descoberto na órbita de Júpiter, e onde as condições de colonização humana se apresentam particularmente favoráveis.

Além de realizar o filme, Clooney interpreta o papel desse Augustine Lofthouse, que tanto labutara no sentido de encontrar outros lugares possíveis para servirem de lares alternativos à espécie humana, mas agora desesperado perante a urgência de a ela garantir uma redenção assente na reedição do mito cristão: quais Adão e Eva expulsos deste lar original, Iris e Adewole buscarão um outro como se fossem José e Maria direcionados para uma nova Belém, com o filho de ambos já por ela albergada no ventre.

Como é comum no género há também a relação algo transcendente entre pais e filhas. Há Sanchez a viver o remorso de não ter conseguido salvar Maya, por ele vista como réplica da filha morta de doença aos quatro anos e, se fosse viva, com a mesma idade dessa engenheira morta pelo embate de meteoritos, quando trabalhava fora da nave. E também o próprio Augustine a descobrir que a pulsão para superar as dores da doença em fase terminal redunda no salvamento da ´desconhecida filha jamais por ele conhecida por ter abdicado de uma vida familiar estável para dedicar-se ao seu sonho. Só para lá do meio do filme é que compreendemos que é a sua fantasmática imaginação a criar a presença dessa miúda calada, afinal dupla dessa filha tão distantemente acautelada dos desvarios humanos causadores da destruição dos ecossistemas terrestres.

Embora o reconheçamos apenas mediano há algo, que somos forçados a reconhecer: The Midnight Sky está irrepreensível na utilização dos recursos técnicos para credibilizar o decurso da ação em 2049, curiosamente a data em que decorre a sequela de Blade Runner. E, embora à exceção de Clooney e de Felicity Jones, o elenco se baste com atores e atrizes pouco conhecidos, não é pelo lado das interpretações, que fundamentamos a relativa deceção perante este filme manifestamente abaixo das expetativas. 

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