terça-feira, dezembro 29, 2020

(DIM) Decadências, Wilfried Hauke, 2020

 

Embora haja quem nos queira convencer quanto a estarmos mergulhado numa desesperante era de decadência civilizacional feita de ascensão das extremas-direitas ou de múltiplos agravamentos dos problemas ambientais (extinção de espécies, aumento de temperaturas, degelo de glaciares ou subida dos oceanos), não compro propriamente essa tese. São avassaladores os problemas rastreáveis nos anos atuais, mas confio plenamente na capacidade humana para superar os desafios e construir uma sociedade avançada, sustentável e menos desigual.  Ainda assim vi com todo o interesse este documentário dividido em duas partes, a primeira dedicada aos anseios e declínios, a segunda às lutas e desilusões.

À partida a História do mundo é rica em exemplos de decadência: na Roma antiga esta mostrava-se refinada na forma como se traduzia nos prazeres dos privilegiados. Os frescos de Pompeia eram bem explícitos quanto a uma alegria de viver, que ignorava a contagem decrescente para o momento em que os bárbaros viriam dividir entre si os despojos do finado  império e anunciarem as trevas medievais.

Mais próximos de nós os intelectuais e artistas do século XIX - de Baudelaire a Egon Schiele passando por Oscar Wilde - representaram uma outra forma de decadência, traduzida na subversão dos tabus burgueses.

Atualmente os venturas, que emergem em diversos países, invocam o nacionalismo e outros argumentos populistas para declararem a Democracia corrompida, havendo que assegurar o ressurgimento de valores passados aos quais pretendem limpar de intrincados mantos de poeira e de teias de aranha. Por seu lado as esquerdas verberam o consumismo, a globalização e a pobreza, enquanto os ecologistas penam pelo estado em que sabem estar o planeta.

Entre o declínio moral e o social, a decadência ora é deplorada, ora valorizada , consoante nela se identifica uma transgressão ou uma forma de resistência. Nuns casos a deslocalização industrial empurrou o proletariado para o desemprego e para a indignada revolta contra as elites, deslocando-se de um extremo político para o outro, completamente oposto.

Wilfried Hauke, o realizador do filme, convida filósofos, historiadores, artistas e militantes de causas diversas a pronunciarem-se sobre a instabilidade em que nos vemos mergulhados. Mas a socióloga Monique Pinçon–Charlot sugere a resposta óbvia: vivemos numa fase complexa da luta de classes que, como Hegel ou Marx defendiam, acabará numa resolução decisiva entre os contrários, que procuram prevalecer. Confiemos que entre o velho e o novo, volte a ser este a ditar as bases das contradições subsequentes... 

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