terça-feira, junho 18, 2019

(VOL) Um antropólogo no combate contra os negacionistas do clima


Bruno Latour, um dos mais destacados intelectuais de língua francesa, esteve na France Culture e foi inevitável a abordagem sobre um dos temas, que mais o motivam nesta altura: o comportamento dos negacionistas perante a evidência das alterações climáticas. Nesse sentido ele até considera justo que creditemos a Trump alguns agradecimentos ao dar acrescida relevância aos temas relacionados com o clima. Sabendo quem está no outro lado da barricada melhor noção temos da dimensão da guerra ideológica que enfrentamos. E ela só pode incentivar-nos a ações mais consequentes, mormente quando nos é revelada a nova orientação da Casa Branca à NASA, doravante instada a desinteressar-se do que se passa com o planeta Terra e a virar-se para a Lua, Marte e outros objetos celestes mais distantes.
Para Latour estamos em pleno Antropoceno e os futuros geólogos constatarão nas camadas sujeitas à sua análise quão significativa terá sido a mudança operada pelos seres humanos no seu ecossistema. E de nada adianta iludirmo-nos com uma solução tecnológica para o anunciado risco de tornar insustentável o planeta em que vivemos. A chamada colapsologia, ou seja a visão laica e despolitizada do fim dos tempos, que nos convida à inação, é problema muito sério. Se nós, humanos, não somos particularmente fadados para a capacidade de prever o futuro, cometeremos um crime se não tomarmos em conta os erros entretanto identificados.
O antropólogo francês considera urgente que se prescinda do culto do progresso, que promove a indiferença quando ao futuro que nos espera. Recuperando a atitude marxista do século XIX apela à imprescindibilidade do conhecimento sobre as condições materiais da existência. Só compreendendo como evoluirão as sociedades no futuro poderão delinear-se as mais eficazes soluções.

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