sexta-feira, junho 28, 2019

(AV) Félix Valloton na Normandia


Das cidades francesas aonde conto regressar, por as considerar particularmente atrativas, Honfleur é uma das que integrará esse périplo obrigatório. Assim a considerava igualmente Félix Valloton, o pintor que viveu entre 1865 e 1925 e aí passou os verões do último quartel da sua vida encontrando inspiração para algumas das suas obras mais representativas.
A sorte sorriu-lhe em 1899 ao desposar Gabrielle, acabada de enviuvar de Gustave Henriques-Rodrigues - de uma família judia portuguesa fugida à Inquisição - e também herdeira da rica família Bernheim. Foi na lua-de-mel passada em Étretat, que Valloton deu com uma luminosidade, que o impressionou e lhe deu o ensejo de pintar quadros nos quais a ridícula burguesia, doravante também a sua própria classe social, ia a banhos à beira-mar. Sociologicamente interessavam-no bem mais as lavadeiras que, fora das horas de lazer dos veraneantes, exerciam na praia o seu mister.
O casal decide ser a costa normanda o seu lugar fixo de vilegiatura  em todos os verões seguintes, mas a partir de 1901 opta definitivamente por Honfleur por ser o local mais inspirador para o artista. As manchas do casario refletidas nas águas do Grand Bassin ou a luz do farol a estender-se pelo areal molhado correspondiam a estímulos utilizados por Velloton para alguns dos seus quadros.
Mesmo quando decidiu deixar a beira-mar e criar o atelier no fronteiro Mont Joli, Velloton continuou a ter a vila, o rio Sena e os campos à volta como temas de eleição, sendo particularmente referenciados os sete crepúsculos pintados em 1911, que exprimiam a magia dos momentos raros.
Embora sem a notoriedade de alguns dos seus contemporâneos, Valloton bem merece que se olhem com atenção muitos dos seus quadros...

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