terça-feira, junho 18, 2019

(DL) Quando as paixões juvenis acabavam em tragédias poéticas


Enquanto escrevia o romance por que ficou conhecido, «O Grande Meaulnes», Alain Fournier recordou com saudade a poesia nele insinuada pela paisagem da sua infância, situada no centro geográfico do Hexágono e com muitos castelos a sobressaírem no meio das florestas e dos campos cultivados. Foi na última década do século XIX, que o escritor cresceu como aluno de uma daquelas escolas que a III Republica reabrira com a intenção de escolarizar os filhos do povo. Os pais do escritor eram professores incumbidos de preparar uma geração, que se pretendia letrada e capaz de prosseguir a rápida migração da condição rural para a de proletários nas indústrias das grandes cidades.
«O Grande Meaulnes» conta uma dupla iniciação sentimental: a da amizade entre o filho de um professor e um condiscípulo camponês e a da paixão deste por uma jovem aristocrata. Tratava-se de uma história algo autobiográfica porque, aos 27 anos, Alain Fournier transpunha para romance a estória da sua assolapada paixão por uma bela parisiense.
O romance procurou ser fiel a esse universo em que as aulas aconteciam na parte da tarde, porque a maioria dos alunos passavam as manhãs nas tarefas inerentes às quintas dos progenitores. A essa realidade Fournier contrapõs a feérica realidade do castelo próximo por ele descoberto num dia de 1896, quando foi convidado para a festa organizada pelo anfitrião para celebrar o nascimento do seu mais jovem rebento. Nele imaginou o encontro entre Meaulnes e a jovem Yvonne de Gallais, que conclui-se num trágico desenlace.
Fournier não teve a oportunidade de escrever outra obra: concluída esta em 1913, logo se viu alistado para a Grande Guerra onde seria uma das primeiras vítimas caídas em combate. Essa quase coincidência entre a publicação de um romance melodramático e a precoce morte do  autor só contribuiu para que «O Grande Meaulnes» ganhasse particular importância de entre as obras literárias do seu tempo. Quando o li, no final da minha própria adolescência, considerei excessivos aqueles ardores juvenis, mas ainda recordo-o capaz de me transmitir o fascínio de um lugar, afinal bem menos interessante do que Fournier sugeriu.

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