sexta-feira, junho 07, 2019

(DIM) «Evereste» de Baltasar Kormákur (2015)


O filme estreou-se há quatro anos no Festival de Veneza e vi-o agora pela segunda vez, em melhores condições do que na anterior, porque este é um daqueles casos em que se justifica a opção por um ecrã mais alargado, capaz de respeitar a imponência do Evereste configurando-o tanto quanto possível aos limites de enquadramento do nosso olhar..
Não se tratando de proposta cinematográfica digna de grandes encómios, mas servida pela competência de um artesão a quem foram facultados os meios necessários para melhor exercer o seu talento, fascina-nos tanto mais quanto maior for a nossa pena por nunca virmos a ter a oportunidade de acedermos a tal aventura. Se durante uns anos ainda considerei o trekking nas faldas dos Himalaias como experiência a concretizar se as circunstâncias o propiciassem, a condição de sexagenário já me convenceu da sua inexequibilidade. Até porque, se em 1996, quando ocorreram os acontecimentos relatados no filme, ela estava destinada a uma elite de alpinistas especializados nas grandes altitudes, a dinâmica capitalista transformou-a numa espécie de pacote turístico em que os clientes quase são levados ao colo até ao cume para ali tirarem umas fotografias logo descendo para os campos de apoio a fim de as divulgar nas redes sociais. As imagens. há dias conhecidas, de uma longa fila de visitantes a ascenderem lentamente até ao cume, demonstraram como um lugar, em tempos tido como sagrado, foi reduzido a uma espécie de atração de feira com engarrafamentos no sentido de quem para lá vai, ou de lá regressa.
O filme de Baltasar Kormákur, rodado em Itália, no Nepal e em estúdios ingleses, torna credível as vicissitudes por que passaram as expedições lideradas por Rob Hall, Scott Fisher e Anatoli Boukreev em 10 de maio de 1996, quando conseguiram levar a maioria dos clientes até ao cume, mas perderam alguns e se perdera a si mesmos ao serem sujeitos a uma tempestade extrema no regresso. Há muitos atores e atrizes conhecidos, criam-se pequenas histórias autónomas em torno dos motivos de ambicionar essa meta e o melodrama ganha crescente intensidade impressiva. Tudo parece credível e pode revelar-se extremamente útil em ações de formação sobre gestão de equipas, de tal modo as tragédias ali ilustradas podem ser explicadas pela tibieza dos líderes na afirmação da sua autoridade. Os erros de avaliação das circunstâncias são imperdoáveis para quem as deveria sobreavaliar em vez de minimizar. Daí que o preço a pagar seja o da própria vida.

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