segunda-feira, janeiro 29, 2018

(DIM) Utopias e Distopias a propósito de «The Handmaid’s Tale»

A série «The Handmaid’s Tale», que foi tão premiada na recente cerimónia dos Globos de Ouro, suscita algumas reflexões sobre a razão para que escritores, filósofos ou cineastas se debrucem sobre cenários utópicos ou distópicos.
A formulação da Utopia por Thomas More correspondia ao desejo de uma sociedade diferente daquela em que vivia e em que o poder feudal de Henrique VIII contrariava a emergência de uma nova realidade económica protagonizada pela classe dos comerciantes burgueses. A conceptualização de uma sociedade ideal deriva do pressentimento da mudança operada naquela em que se existe. Daí que não seja coincidência que Karl Marx tenha imaginado a sociedade comunista quando a Revolução Industrial estava a virar do avesso todas as relações de classes anteriormente existentes.
Contemporâneas das Utopias, as Distopias têm por autores os que se intimidam perante as mudanças, desejando que as coisas continuem como são. Em plena Guerra Fria, quando o «american dream» tendia a ficar obscurecido pela propaganda que enaltecia os aspetos sociais positivos do regime soviético, a panóplia de filmes de terror ou de ficção científica, que ameaçavam o modo de vida americano, tinham propósitos manifestamente proselitistas. Da mesma forma, quando esse mesmo sistema capitalista abanou por causa da primeira crise do petróleo, o incidente de Three Mile Island justificou toda uma série de distopias relacionadas com a energia nuclear, mormente um apocalipse capaz de gerar mundos tipo «Mad Max».
Embora ainda só vá no terceiro episódio, «The Handmaid’s Tale» é, de facto, uma série de excelente gabarito, quer na tessitura narrativa, quer na interpretação das personagens principais. Mas não deixa de ter subjacente a vontade conservadora dos que se intimidam perante um futuro, que anteveem pior do que o atual. Quando a História raramente andou para trás e, quando o fez, foi no recuo de um passo para logo dar dois em frente...
 

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