Alberto Giacometti não é apenas um dos maiores artistas do século XX: consegue ser, igualmente, uma das suas personalidades mais originais. Daí o interesse da mais recente biografia assinada por Catherine Grenier e publicada na Flammarion.
Diretora da Fundação Giacometti, a autora, empreendeu uma aturada pesquisa, que lhe permitiu compreender alguns dos aspetos inerentes à intimidade de um artista conhecido pela forma obcecada como reagia ao que criava, forçando-se a padrões de exigência que não admitiam a menor autocomplacência.
Em jovem frequentou o atelier do pai, um pintor pós-impressionista, muito influenciado pelos fauves, e que ganhara prestígio e clientes, quer na Suíça, quer na vizinha Alemanha.

É curiosa a contradição com que, apesar da timidez, o jovem escultor conseguiu conhecer e tornar-se amigo de alguns dos maiores escritores e artistas do seu tempo e, por outro lado, a vontade de se isolar, de não se dar ao convívio com ninguém que o pudesse distrair dos seus projetos. O atelier de Montparnasse ganhou fama de local mítico de acesso muito reservado. Dele nunca se afastava, à exceção das viagens regulares a casa para visitar a influente mãe. Foi por essa altura, que escreveu: “A arte do passado, de todas as épocas e civilizações, surgiu-me como um todo como se o espaço tomasse conta do tempo”. Intuíra que, passada a fase das vanguardas, seria necessário um movimento de síntese, fundamento do novel interesse pelas artes primitivas, a cujas formas buscou dar leitura contemporânea. Profundamente interessado na representação humana, afastou-se da tentação naturalista para apostar na criação algo alucinada da sua figura, por isso mesmo dotada de misterioso poder.
A biografia de Catherine Grenier aborda tudo isso e, ainda a ler-lhe as primeiras páginas, sinto-as como se se tratasse de um convencional romance.
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