segunda-feira, janeiro 08, 2018

(DIM) «A Minha Estação Preferida» de André Téchiné (1993)

Nesta segunda-feira o canal Arte exibe este filme de André Téchiné, que conta com  Catherine Deneuve e Daniel Auteuil no auge das respetivas filmografias e proporciona a Chiara Mastroianni um dos seus primeiros papéis no cinema.
À partida temos o convite de Émilie para que cesse a zanga com o irmão e este vá passar o Natal com a mãe de ambos, que ela acolhe. Mas Antoine vai brigar com o cunhado, fazendo com que a velha senhora (uma sóbria e competentíssima Marthe Villalonga) decida regressar à sua própria casa. Só que a degradação acentua-se tanto que, resignados, os filhos decidem interna-la numa casa de repouso.
Temos assim duas famílias, que se cruzam e disputam, tendo Émilie como elemento comum: há aquela donde ela proveio, e que integra Antoine e a mãe; e há a que criou com Bruno, o marido, que é visto pelos outros como um elemento estranho, senão mesmo hostil.
Para a protagonista a questão que se coloca é esta: como viver e amar sem trair, quando a identidade oscila entre duas forças opostas, que a tentam cativar para si em regime de exclusividade? É que, por um lado, a mãe vai dando sinais de deles conscientemente se apartar numa decadência inexorável, e por outro o irmão, apesar de ser um reputado neurocirurgião, recusa-se a detetar em si mesmo os sucessivos AVC’s, que o vão afetando. Há nesse Antoine um desespero na forma como procura recuperar um território infantil, que já não lhe está acessível, mesmo que o espaço continue a ser o mesmo. A realidade encarrega-se de demonstrar a futilidade das ilusões obsessivas, já sem qualquer fundamento.
André Téchiné, que tão bem perscrutava o intimo dos seus personagens, evita, ainda assim, a nostalgia, substituindo-a pelos vacilantes reflexos das estações, que não se distinguem umas das outras. Um filme excelente...

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