domingo, janeiro 14, 2018

As partes do todo (V) : 13 de janeiro de 2018 - homicídio em Havana e o incrível mundo dos ratos-toupeira

1. No seu derradeiro caso como polícia, o Tenente Mário Conde é incumbido de esclarecer o homicídio de Miguel Forcade, um antigo alto quadro da Administração cubana, que se exilara em Miami e ali voltara já na condição de cidadão norte-americano.
Será que a sua morte violenta terá algo a ver com a posse ilícita de quadros e outras obras artísticas valiosas abandonadas pela elite anticastrista, quando os «barbudos» chegaram a Havana?
Conde e Manolo, seu adjunto, suspeitam que Forcade terá sido assassinado por cúmplices, quando se preparavam para fugir com esses tesouros para a Flórida, mas acabam por concluir existirem razões mais prosaicas … e passionais para que a vítima tenha aparecido castrado e a flutuar em frente ao Malecón. 
O romance chama-se «Paisagem em Havana» e é um dos títulos da série Mário Conde, que Padura foi criando em paralelo com outras obras não obrigatoriamente vinculadas ao género policial. Mas os cânones deste tipo de escrita servem de capa para o escritor dar a conhecer muito do que é a sua visão crítica da realidade cubana. Não se colocando propriamente na perspetiva de opositor ele adota a de quem muito acreditou no lado idealista da Utopia, e se descobriu num país subdesenvolvido sem grandes expectativas de superar essa fase de permanente falta de alguns bens de primeira necessidade.
Em romances posteriores já encontraremos Conde dedicado à pouco lucrativa atividade de alfarrabista, razão para aceitar alguns casos enquanto detetive particular. Mas sempre com o desejo de escrever romances, ainda que não vá conseguindo passar das primeiras páginas.
2. O rato-toupeira está a suscitar a atenção da comunidade científica internacional apesar do aspeto ingrato, que levaram alguns a considera-lo uma derivação monstruosa das leis de Darwin. Sem pelo e com dentes invulgarmente longos, este roedor, cujo habitat se situa entre a savana queniana e os desertos do Corno de África, revela uma inesperada longevidade e uma saúde extraordinária.
Organizado em colónias constituídas por amas secas, soldados e operários, são lideradas por uma rainha, que é a única reprodutora do grupo e tem ainda maior esperança de vida que a dos seus súbditos. O interesse dos cientistas incide pois na resposta à questão de se descobrir como consegue esta espécie vencer os obstáculos, que a pudessem privar da sua longevidade?
Da análise do património genético os cientistas concluíram que estes animais estão equipados com genes capazes de eliminarem os dejetos proteicos que, ao acumularem-se, provocam o envelhecimento celular na espécie humana. Ademais têm células a produzirem ácido hialurónico, que possuem um efeito preventivo sobre os riscos de cancro.
Noutras experiências pode-se concluir que os ratos-toupeiras conseguem suprir a falta de oxigénio recorrendo ás suas reservas de frutose, algo até agora só conhecido nas plantas.
Os laboratórios dos institutos, que os estudam, procuram encontrar forma de replicar este tipo de genes, utilizando-os depois nos tratamentos anticancerígenos, na criação de medicamentos mais eficientes contra a dor e na salvação de vítimas de AVC.
Estamos, pois, perante uma espécie animal, dotada de características únicas e de cujo estudo podem surgir soluções farmacêuticas de inegável interesse.


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