sábado, abril 04, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «Zona Quente» de Richard Preston (2ª parte)

No texto anterior já assistíramos ao despertar do mundo ocidental para as ameaças de novos vírus - o Ébola e o Marburg - oriundos da África Central.
Em 1987, depois de uns anos sem se declarar, o Marburg vitima um miúdo europeu, Peter Cardinal, que estava de visita à família no Quénia e cujos interesses pela geologia o tinham motivado a uma visita à caverna de Kitum, onde  onze anos antes, Charles Monet também contraíra a doença fatal.
Existe, então, estímulo bastante para organizar uma expedição científica  liderada por Gene Johnson, extremamente bem equipada, e destinada a identificar o foco de disseminação do vírus na caverna em causa. Mas as semanas aí passadas resultam num fracasso.
A próxima ameaça ocorrerá num local inesperado - na Virgínia - e tendo como agente de transmissão alguns macacos importados das Filipinas para serem utilizados nos laboratórios científicos dos EUA. O alarme ocorre, quando alguns desses animais começam a morrer sucessivamente com sintomas desconcertantes para os respetivos tratadores. Só quando o proprietário desse empresa de Reston, Dan Dalgard, envia algumas amostras de tecidos dos macacos autopsiados, é que o mais importante dos laboratórios militares da região - o USAMRIID - conclui tratar-se de uma estirpe de Ébola.
Nesses primeiros dias de contacto com o vírus sucedem-se as más práticas e os erros mais grosseiros: por exemplo, dois investigadores abrem um dos tubos de ensaio com as amostras acabadas de receber e aspiram o seu conteúdo antes de compreenderem a estupidez do seu gesto.
Quando alguns dos tratadores dos macacos de Reston começam a adoecer, o USAMRIID toma conta do local, matando todos os animais ainda vivos e recolhendo mais amostras.
É nessa altura que se verifica um conflito de competências entre as instituições militares e as civis dependentes do poder federal, que competem pela exclusividade na investigação do vírus.  Constitui uma regra absurda, mas a verdade é que há sempre rivalidades a agudizarem-se nas situações onde mais se justificaria a entreajuda e a complementaridade.
Quando já se teme uma epidemia capaz de semear o pânico por toda a costa oriental dos EUA, os cientistas chegam á conclusão, que a estirpe de Ébola com que estavam a lidar pode transmitir-se por via aérea - e daí que cobaias de salas diferentes sejam contaminadas! - mas sem se mostrar letal para os seres humanos.
Os cientistas sabem, no entanto que, nas cavernas africanas ou asiáticas, há vírus extremamente perigosos a manterem-se latentes até que a desflorestação e a facilidade de ultrapassar distâncias as tragam até ao desprotegido mundo ocidental.
E a experiência vivida nos últimos meses com a epidemia de Ébola na África Ocidental bastou para demonstrar que tal cenário é mais do que uma hipótese académica! 

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