quinta-feira, abril 16, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «O Arquiteto» de Keith Ablow - (1)

Se, antes de pegar neste romance policial, conhecesse a biografia do autor, atrever-me-ia a pegar nele? Quase por certo não!
Um republicano, que costuma participar na Fox News, acha Newt Gringrich um candidato interessante à Casa Branca e se atreve a fazer diagnósticos psiquiátricos em direto sobre pessoas com quem nem sequer falou, não constitui propriamente curriculum merecedor de com ele perder muito tempo.
Chegado a esta idade, já não estou propriamente incomodado com o que é ou não «politicamente correto», permitindo-me exprimir sem reservas os estados de alma relativamente a tudo quanto me apeteça. Há estímulos, que muito me deslumbram - como é o caso de algumas das fotografias de Sebastião Salgado atualmente expostas na Cordoaria Nacional - outras pelas quais não me contenho na expressão de ódiozinhos de estimação. Por exemplo nunca, por nunca, me sentaria depois de amanhã no Grande Auditório do CCB a ver a cavaquista katia guerreiro!
Mas, porque li o romance de Ablow sem cuidar quem ele era, não me deixei guiar pelas reservas, que esse conhecimento prévio implicaria. Muito embora convenhamos que, mesmo querendo disfarçar, o reacionarismo ideológico do autor acabe por emergir aqui e além.
Vamos lá então iniciar uma viagem pelo romance, dividindo a abordagem  ao longo dos próximos dias.
No início temos o contacto com o protagonista, Frank Clevenger que, a exemplo de Ablow, é psiquiatra. Convocado ao FBI é-lhe feito o desafio de tentar esclarecer a autoria de cinco horríveis crimes cometidos contra pessoas pertencentes à classe mais endinheirada dos EUA, e com uma especificação grotesca em todos eles: uma parte do corpo, sempre diferente - o coração, o rim, o colo do fémur, etc. -, dissecada com a competência de um anatomista.
Pelo que se sabe todas as vítimas terão sido neutralizadas com clorofórmio e depois envenenadas mediante a administração de um poderoso fármaco.
Na investigação, Frank irá deparar com alguns condicionalismos: o principal é o filho adotivo, Billy, por cuja educação se responsabilizara depois de o salvar, quando contava 16 anos e fora injustamente acusado da morte da irmão mais nova. Agora, já pai de uma criança, a que é indiferente, entrou num gang onde os combates ilegais e a droga são realidades quotidianas.
Outro condicionalismo de Frank é o alcoolismo. Muito embora procure controlar-se, o psiquiatra passará uma boa parte do romance a ingerir quantidades imoderadas de álcool.
E, depois, há Whitney, a diretora da Unidade de Ciências do Comportamento do FBI, que fora quem o convocara e que bem gostaria de iniciar uma relação estável com ele, mas se sente inibida pela intromissão contínua do futuro enteado e com o vício do amante.
Frank e Whitney “eram extraordinariamente compatíveis a nível intelectual, igualmente fascinados pela psique humana e as suas patologias, ambos de mentes obstinadas que analisavam sem cessar os problemas até os solucionarem.” (pág. 18) 

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