quinta-feira, abril 23, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «O Arquiteto» de Keith Ablow (4)

Vimos anteriormente que o psicopata cujos crimes polarizam a narrativa de Keith Ablow é um arquiteto chamado West Crosse tão obcecado com a perfeição das suas obras, que se encarrega de ir matando quem nelas não merece viver.
Para o projeto da casa do Montana, que o casal Rawlings o incumbira de conceber, já decidiu quem é o elo mais fraco destinado a ser sacrificado: a própria Heather Rawlings, apostada em não oferecer ao marido o herdeiro por ele tão desejado.
O edifício concebido tem as influências das casas por onde Ken passara a infância e uma vertente caribenha inerente a Maritza, a cubana  que servia ao mesmo tempo de assistente e de amante ao patrão. É claro que interessado em conhecê-la melhor, Crosse não deixa de passar umas tardes na cama dela…
“Os Rawlings eram uma mentira. Ken Rawlings casara com a mulher, Heather, por insegurança, porque o preocupava nunca conseguir alcançar o sucesso suficiente por direito próprio. Agora tinha a Abicus, a companhia mineira de extração de diamantes do pai dela, mas não tinha paz, e não tinha filhos. E por que razão os teria? Deveria Deus sorrir perante uma mentira mais do que a própria gravidade perante alicerces fracos?” (pág. 84)
Depois de desenhar os planos da casa do Montana, West Crosse vai a Chicago perpetrar o crime seguinte na pessoa de Chase Van Myer, uma rapariga de 22 anos cujos transtornos bipolares quase estavam a destruir a família e a manchar a excelência da remodelação por ele concebida. Depois de a matar, o arquiteto disseca-lhe o nervo ótico.
No entretanto o psiquiatra Frank Clevenger anda a visitar as famílias das vítimas anteriores. Na do sexagenário Ron Hadley, que aparecera na praia com o coração dissecado, constata algo semelhante ao já verificado em casa de Shauna Groupmann: nem a viúva, nem as filhas, parecem lamentar a morte desse marido e pai controlador, que lhes infernizava os dias…
Mas outra característica comum parece relacionar todos os homicídios: ora nas vítimas, ora nos familiares diretos, havia sempre alguém com ligação a uma das mais famosas fraternidades universitárias dos EUA, a da Caveira e Ossos.
O corpo de Chase foi encontrado no Pavilhão Jay Pritzker, da autoria de Frank Gehry, um arquiteto execrado pelo criminoso: “Crosse amava a estrutura e não a sua demolição. A sua obra servia para as necessidades dos seus clientes e não as dele. Sabia que libertá-los para viverem vidas mais completas não tinha nada que ver com curvar as paredes das suas casas. Implicava, sim, encontrar a estrutura que refletisse as verdades interiores deles e depois tentar alcançar isso, a qualquer custo. Implicava ir à guerra em nome de uma arquitetura que reproduzia o vertiginoso casamento entre forma e função como existia na anatomia humana” (pág. 126) 

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