sábado, março 21, 2015

IDEIAS: A dualidade do Bem e do Belo

Ao longo da História da humanidade foi muito longo o percurso, que nos trouxe até ao que hoje entendemos como Belo. A nível da Filosofia, o Belo andou, frequentemente, em associação com o Bem, como se Estética e Ética correspondessem a matérias complementares.
No século IV a.C. Aristóteles fez a distinção entre os dois conceitos: o Bem encontra-se na ação, enquanto o Belo pode estar presente, ao mesmo tempo nas ações e em certos seres imóveis, por exemplo de natureza matemática. O que o leva a definir as formas mais superlativas da Beleza recorrendo a noções como a ordem, a simetria e a harmonia.
No século seguinte, Plotino, filósofo neoplatónico, tenta explicitar melhor essa cumplicidade entre o prazer e o Bem.
Depois de expor o primado do Bem, apresenta as primeiras descrições detalhadas do prazer estético. O seu tratado, a “Enéadas I-6”, que trata da beleza, conduz-nos da sensibilidade por ela gerada até ao que significa em si mesma, na forma e na ideia.
Atardando-se nas emoções que nascem a partir do Belo (I-6-4), Plotino é o primeiro a caracterizar  as emoções no respeitante ao prazer estético, falando de surpresa (thambos), da felicidade do espanto (ekplexis hedeia), do desejo (pothos), do amor (erota) e do assombro ligado ao prazer (ptoesis meth'edonè).
A palavra utilizada para desejo (pothos) remete, ora para o desejo de algo ausente e afastado, ora para o desejo sexual mais intenso.
Esta descrição da emoção estética aproxima-se da loucura amorosa já evocada por Platão no seu Fedro. Apesar do aspeto sensual desta descrição, a reflexão remete para a única e verdadeira Beleza, que é a divina.
Deus sugere a adequação do Bem e do Belo.
O grande interesse de Plotino, no que virá a ser posteriormente a Estética, é a associação estreita e inteligível da Beleza e do Bem de natureza transcendente e a vivência da beleza de natureza emocional, erótica.
No “Enéadas V-8”, Plotino descreve a contemplação do Bem ou do Belo inteligível com a abolição da distância e da consciência, acompanhado depois de um retorno a essa mesma consciência.
Para designar esta contemplação estática Plotino emprega a palavra aisthanein, que significa “dar-se conta”, “sentir”, e que irá originar a palavra “estética”.
Acrescentemos que, para todos os filósofos da Antiguidade, o Belo em questão quase nunca é o da arte, mas o da Natureza.
Quando se evoca a arte, o Belo nunca deixa de estar relacionado com a reprodução tão fiel quanto possível da Natureza.
Ainda não estamos, assim, no domínio do que será a Estética, mas tão só o da Metafísica.

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