terça-feira, março 03, 2015

CINEMATECA: Ford, Vidor e os outros

Na sua programação de março a Cinemateca está a contemplar diversos ciclos, que estarão hoje representados nas sessões das salas Félix Ribeiro e Luís de Pina por quatro filmes.
Na sala mais pequena  prossegue aquele que é dedicado a Nicolas Rey, um realizador francês nascido em 1968 e a alguns dos seus amigos com quem partilha a razão de filmar - marcadamente política, mas sem abdicar da ideia de viagem e de poesia - e o suporte de película cinematográfica já tido como obsoleto, mas por eles teimosamente defendido como o mais adequado aos seus propósitos. Por isso mesmo conservam um laboratório - L’Abominable - destinado a servir quantos teimem em rejeitar as “facilidades” do cinema digital.
A Cinemateca apresenta o filme «Schuss!», rodado em 2005, no qual Rey parte dos desportos de Inverno para focalizar o seu documentário nas relações entre a indústria e o Estado ao longo de todo o século XX, nomeadamente o declínio de uma realidade fabril, que esteve na origem da perda de influência do outrora pujante proletariado e a sua tendência para se transferir eleitoralmente para a extrema-direita.
No âmbito do ciclo dedicado à comédia japonesa é apresentado «Hospitalidade», um filme de 2010 assinado por Koji Fukada. O tema é o do encontro de um casal com uma família, que possui uma gráfica em Tóquio e o resultado é uma espécie de “melancolia absurda”.
Mas o ciclo mais ambicioso de março tem a ver com o centenário de «O Nascimento de uma Nação», de David Ward Griffitj, que incluirá uma sessão especial no Teatro São Carlos no dia 15. Até lá são revistas as obras de muitos cineastas, que trabalharam com Griffith ou nele se filiaram diretamente como seus discípulos tornando-se, também eles, nomes de referência do cinema americano do século XX.
Um foi John Ford, que até participara como figurante no filme maior do Mestre, interpretando um dos crápulas do Ku Klux Klan.
Dele é apresentado o último filme que rodou. Intitulado «Sete Mulheres», data de 1966 e tem Anne Bancroft no papel principal. Escolha compreensível para explorar a sensualidade relacionada com o recalcamento sexual numa missão religiosa na China sujeita aos horrores da guerra civil. A futura «Mrs. Robinson»  é uma médica, que ali chega e irá  suscitar uma crise.
Enquadrado no mesmo ciclo, «An American Romance» foi realizado por King Vidor em 1944. Constituindo a segunda parte de uma trilogia, que nunca viria a concluir-se («O Pão Nosso de Cada Dia» fora a primeira parte), o filme conta a história de um emigrante, que se transforma num magnata da indústria do aço. Cortado pela produção, que impusera Brian Donlevy como  protagonista contra o parecer do realizador, não deixa de manter a força telúrica própria de Vidor.

15.30 «Sete Mulheres» de John Ford
18.00 «Schuss!» de Nicolas Rey
19.00 «Hospitalidade» de Koji Fukada
21.30 «An American Romance» de King Vidor 

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