A vida não está fácil para Moshe: depois de ter saído de Israel, vinte anos atrás, para escapar à responsabilidade de um filho na barriga de uma mulher com quem não quer viver, continua a vegetar em Nova Iorque, sobrevivendo á custa de expedientes. Mas é agredido pelos capangas de quem por ele se sente enganado, não consegue que lhe confiem mercadoria para vender pelas ruas, vê-se importunado por um senhorio a quem deve meses de renda e nem o bar do costume lhe continua a fiar as bebidas.
A solidariedade entre judeus, eis uma impossibilidade, que ele comprova na prática.
A notícia da morte da ex-companheira não o impressiona, nem o faz sentir a necessidade de regressar, mesmo que episodicamente, a Israel. E isso, o filho não lho perdoa: Tzah vive amargurado pela sua permanente ausência, sobressaindo como atirador de elite do exército do seu país. Mas, nos intervalos, vai provocando esse progenitor, a quem vota um ódio mesclado de curiosidade, já que lhe vai telefonando ou enviando fotografias.
Moshe começa, então, a ser acometido de um sentimento de paternidade demasiado tardio: sabe que estragou a sua vida e que nada a poderá redimir. E, no entanto, surge-lhe uma oportunidade de ouro, quando consegue tornar-se, algo a contragosto, no animador do bar aonde se vira proscrito, declamando a sua poesia beat, feita de angústia, insegurança e muita raiva pelas ilusões desfeitas.
O seu sucesso, a par de algumas relações diferentes das que cultivava habitualmente com prostitutas de ocasião, irá conferir-lhe o aprofundamento desse sentimento de redenção. Apazigua assim os derradeiros dias da velha Sheila a quem ajuda a morrer serenamente enquanto lhe declama versos pornográficos ou restitui a esperança à solitária Yolanda, de cujo filho se propõe ser dedicado padrasto.
Mas Tzah é expulso do exército quando fere involuntariamente um miúdo palestiniano com quem acabara de jogar à bola. Será a oportunidade para ir até Nova Iorque e definir algo de concreto a respeito desse pai: ou assassiná-lo, como catarse do seu ódio, ou começando com ele o que for possível numa relação entre pai e filho.
O realizador escolhe o final feliz como opção de epílogo, muito embora ilustre até aí toda a inquietação de um povo dividido entre os aristocráticos askhenazes e os proletários sefarditas, enquanto não resolve o seu problema essencial, que é o de reencontrar o idealismo dos seus pais fundadores e fazer a paz com os seus vizinhos, vencendo a tendência para a mediocridade e a corrupção.
O que o filme de Kollek demonstra é que, embora sedentarizado no território do Médio Oriente confiscado aos palestinianos, o sentimento profundo de qualquer israelita é o de uma diáspora mental, em que a própria identidade encontra difícil abrigo nas confundidas mentes dos seus cidadãos.
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