«Dante 01» é um projecto europeu ambicioso ao criar uma atmosfera de ficção científica coerente ao nível do que o cinema de Hollywood nos habituou. Mas os personagens pecam por ser demasiado estereotipados, mesmo vivendo numa estação espacial para onde são enviados criminosos particularmente perigosos. O planeta, em cuja órbita circundam, é o que mais se aproxima da ideia de Inferno, um imenso magma aonde a morte será certa se nele se precipitarem. A referência ao escritor italiano faz todo o sentido por muito, que aqui nos alheamos da correlação directa entre o crime e o castigo...
O equilíbrio do início do filme vai ser perturbado por dois novos hóspedes da estação: a cientista Elise, que está encarregada de aplicar novos tratamentos aos prisioneiros transformados em cobaias, incluindo o seu parceiro de viagem, o misterioso Saint Georges dotado de poderes insuspeitáveis, que começam a revelar-se quando cura os seus novos companheiros de cárcere, quando pareciam irremediavelmente mortos.
Quem detesta esse Saint Georges é César, o psicopata manipulador, que liderava até então os demais prisioneiros. E que conta com a cumplicidade do gigantesco Moloch e do sinsitro Lazare para se livrar so seu inimigo de estimação. Num e noutro campo surgem assim divisões em dois campos: de um lado, os que se ajustam ao nosso sentido ético dos valores, e do outro, os que não olham a meios para cumprirem os seus objectivos pouco escrupulosos. Que têm necessariamente a ver com o exercício do poder, seja ele político, seja científico, seja comercial.
Marc Caro escolhe as cores sombrias para ilustrar o sentimento de abandono vivido por esses personagens, sejam eles carcereiros ou encarcerados. E se a primeira metade do filme é desenvolvida para demonstrar o carácter opressivo desse espaço e os inexplicáveis dotes de Saint Georges, o problema é quando o realizador tenta, depois, conferir um sentido pseudo-místico a uma história sobre o eterno conflito entre a tecnologia e a condição humana. E são essas pretensões filosóficas, que prejudicam a credibilidade de uma história, que poderia aguentar-se mais facilmente numa lógica de mero entretenimento.
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