Se procurarmos na net são raríssimas as referências a este filme de Huo Juanqi, que quase se assemelha a um objecto marginal, conhecido de um punhado muito reduzido de espectadores ocidentais.
E, no entanto, ele até se revela bastante interessante na forma como desvenda muitas das mudanças em curso no enorme país oriental de onde é oriundo.
Passado em grande parte no mercado da rua Jiqing, tem por protagonista a voluntariosa Shuang-yang, que aí gere um restaurante próprio há cerca de dez anos.
Já a caminho da maturidade ela encarregara-se da educação do irmão mais novo depois da morte da mãe durante o parto e casara depois com um estudante de quem não tardaria a divorciar-se. Sem chegar à realização da maternidade…
Duo-er, o sobrinho deixado em sua casa, enquanto os pais andam de candeias às avessas, poderia ser um substituto eficiente, mas não só se lhe escapa ao controle, como têm horários completamente incompatíveis: ela trabalha noite adentro no restaurante enquanto o miúdo só tem o dia para brincar ruidosamente, quando ela procura dormir…
Mei, a empregada, que mandara vir da província, desperta-lhe, igualmente, sentimentos maternais, mas está demasiado afeiçoada a Jiu-Jiu, esse irmão a quem a patroa educara, mas entretanto aprisionado pela sua excessiva ligação às drogas. Não admira, que Shuang-yang não descanse enquanto a não casa com o filho atrasado de um dirigente do regime, o que se revela um desastre devido ao carácter violento do noivo.
À falta dessa satisfação na maternidade, Shuang-yang deixa-se iludir pelo interesse despertado num homem rico e mais velho, Zhuo, com quem pondera vir a casar. Mas, não só ele está pouco disposto à formalização de um compromisso, bastando-lhe uma relação meramente sexual, como é ademais o anónimo promotor imobiliário, apostado em deitar abaixo o bairro aonde ela ganha a vida.
Shuang-yang viverá uma grande desilusão, mas a esperança nunca a abandonará. Quiçá através do pintor que, no final, aparece a pretende pintá-la?
O filme aborda, pois, uma realidade chinesa já muito distante da do período maoísta: estão aqui a cupidez dos ricos, a corrupção de quem tem algum poder e o total abandono de qualquer forma de participação colectiva na política.
Nesta China é cada um por si e todos contra todos...
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