É verdadeiramente um «character» no sentido em que os norte-americanos dão a essa expressão: aos setenta e três anos, Teri Horton nada perdeu da sua determinação de camionista de longo curso, profissão que foi efectivamente a sua, quando se trata de defender a autoria de Jackson Pollock no quadro comprado numa loja de velharias por cinco dólares num dia em que decidira comprar uma prenda para uma amiga.
Jackson Pollock? Mas quem afinal é esse Jackson Pollock, terá ela perguntado a quem lhe falara pela primeira vez no pintor a propósito do estilo daquele quadro, por causa das cores vivas e da aparente técnica de pintura em acção.
Terá sido nessa altura que o quadro terá escapado ao destino, que Teri lhe pretenderia atribuir: o de alvo para o jogo das setas.
O filme, da autoria de um documentarista veterano, Harry Moses, retrata as tentativas de Teri para comprovar a autenticidade da obra e vendê-la pelo preço por ela considerado como justo: 25 milhões de dólares.
Quer por ser considerada como iletrada, quer porque Pollock teria muitos imitadores mais ou menos talentosos, Teri não consegue ser levada a sério pelo mundo artístico. Nomeadamente por Thomas Hoving, ex-director do Metropolitan Museum of Art, de Nova York, mesmo que Nick Carone, um artista e amigo de Pollock, arrisque a dúvida.
Na sua teimosia Teri contrata Peter Paul Biro, um especialista forense, que analisa uma impressão digital parcial da tela com outra, descoberta numa lata de tinta no estúdio de Pollock e com outras discerníveis em duas telas autenticadas. Ademais, através de uma análise de amostras do atelier de pintura de Pollock, ele foi capaz de confirmar uma correspondência com as partículas de tinta encontradas na tela em questão.
Teri também convence Tod Volpe, um negociante de arte anteriormente condenado por fraude, que investe na pintura como meio de recuperar a sua reputação e a solvência financeira.
Ambos, Volpe e Biro envolvem-se num projecto comercial para gerir e vender obras de arte com a autenticidade ambígua ou questionável. O que significa que deixa de interessar se o quadro é ou não de Pollock: o documentário vale, sobretudo, pela construção de uma mistificação num ambiente específico como o é a cultura de valores norte-americana.
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