sábado, dezembro 26, 2009

Filme: «REMARQUE: A GLÓRIA E O EXÍLIO»

Na véspera da substituição do velho Hindenburg por Hitler na titularidade da chancelaria alemã, Erich Maria Remarque é aconselhado a abandonar tudo e a fugir para a Suíça É que, desde a publicação do seu romance «A Oeste Nada de Novo», quatro anos antes, ele convertera-se num dos ódios de estimação da escumalha nazi.
Esse livro contava os horrores das trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial, quando milhões de jovens viram as suas vidas destruídas, os seus sonhos desfeitos.
O sucesso dessa obra fora tal que, publicado em 1929, logo Hollywood o transformara num filme de grande sucesso.  O pacifismo da sua mensagem justificava agora a certeza de que, na nova ordem nacional-socialista, não existe lugar para o escritor.
A história do livro começa muitos anos antes, em Novembro de 1916, em Osnabrück, aonde Erich nascera e crescera no seio de uma família modesta. Nesse ano, chegado à idade da incorporação militar, Erich passa directamente dos bancos de escola para a caserna, acompanhado do seu amigo Georg Middendorf. Na frente ocidental eles cavam trincheiras muito perto das linhas inimigas.
Apenas seis semanas depois da sua chegada ao teatro de guerra, Erich é ferido com estilhaços de obus e transferido para o hospital militar de Duisburgo. É aí, através dos sucessivos feridos, provenientes da frente de guerra, que ele vai compreendendo a dimensão do morticínio em curso.
Surge, precisamente nessa altura, o projecto da redacção de um romance baseado nos testemunhos dos feridos com quem contacta diariamente.
É também nessa altura, que recebe a carta da irmã Elfriede a anunciar-lhe a morte da mãe. Doravante a questão de como nos comportarmos perante a evidência da morte passa a integrar todos os seus romances.

Uma das consequências dessa Primeira Guerra Mundial fora a profunda crise existencial de uma juventude em quem a ideia de democracia não chega a encaixar. Tudo parece cinzento e inseguro…
Ao regressar a casa conhece Henrika, a nova madrasta com quem é imediata a falta de empatia. Até porque Erich ligara-se muito mais à mãe do que ao pai, cujos interesses intelectuais eram praticamente nulos. Mas, sem outra alternativa, ele volta a alojar-se na casa paterna para continuar os estudos de professor…
Num país marcado pelas privações, Remarque escreve um primeiro romance sobre o mundo quase idílico da intelectualidade antes da guerra, chegando a vender o piano herdado da mãe para ajudar a pagar à tipografia. Confiante em poder dedicar-se em exclusividade à carreira de escritor também se demite do emprego de professor.
O pior é que o romance é um completo fracasso, obrigando-o a encontrar pequenos empregos para garantir o seu sustento.
Recomeça então a escrever um romance de estilo inovador sobre a guerra, mas deixa-o em proveito dos artigos para jornais e revistas, que vão garantindo a sua notoriedade.
Conhece, então, a actriz Jutta Zambona de quem se torna amante e com quem, posteriormente, virá a casar sempre no compromisso de ambos respeitarem a liberdade um do outro.
Em 1925 já vive em Berlim, cuja agitada vida cultural e social o fascinam. Pretensioso e desejoso de ter uma ascensão social, Remarque passa  a usar monóculo como acessório de moda.
Em 1927 volta a retomar o seu romance «A Oeste Nada de Novo», abandonado durante quase dez anos, e em que adopta o ponto de vista dos soldados, secundarizando os oficiais. Os seus personagens são jovens, que não conseguem compreender como se vêem sujeitos a tanto sofrimento, a tanto sacrifício. A morte, mais do que cruel, torna-se em algo de completamente absurdo.
Quando completa o romance, Erich dá-o a conhecer a meia centena de editores, que o recusam liminarmente como objecto sem interesse. Mas as Edições Ullstein propõem a sua publicação sob a forma de folhetim de jornal e exigindo-lhe um pendor ainda mais autobiográfico.
O sucesso surge-lhe, pois, quando se sentia à beira de um colossal fracasso. E é um êxito, que extravasa fronteiras, mas ao mesmo tempo suscita o ódio dos detractores, que o caluniam nos jornais.
Mas é o fim da relação com Jutta, que mais lhe custa na época, sobretudo depois de a apanhar em flagrante com outro homem na sua cama. É a altura em que decide regressar a Osnabrück para iniciar o projecto de escrita seguinte.
Ao fugir para a Suíça ainda tenta arrastar Jutta consigo, mas ela recusa.
Já está a salvo do outro lado da fronteira, quando lhe chegam ecos dos autos-de-fé organizados pelos nazis, em que se queimam milhares de livros, muitos dos quais da sua autoria. E, em 1938, o regime priva-o da nacionalidade alemã.
Mas quem verdadeiramente sofrerá na pele os efeitos do ódio dos nazis pelo escritor é a irmã Elfriede, que será condenada à morte em 1943 sob o argumento do juiz de que não o tendo apanhado a ele, não a deixariam a ela escapar…

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