Que estranho fenómeno levará alguns realizadores russos a partirem à procura do passado soviético através do reencontro com quem conviveram em tempos idos?
«Nós, os Pioneiros do Grupo Gagarine» de Vitalij Manskij (2005) passou por cá num DOCLisboa, mas repete projecto já visto noutro documentário de um compatriota seu: olhar para as fotografias dos condiscípulos numa escola primária e descobrir no que se tornaram quase quarenta anos passados.
A turma em questão era a de uma escola modelo de Lvov aonde Vitalij tinha trinta e dois colegas de ambos os sexos. São pois esses homens e mulheres, que convergiram uns anos naquele canto do que é hoje a Ucrânia e daí se dispersaram para diversas direcções.
A primeira paragem de tal percurso ocorre nessa Ucrânia em que Sveva lhe manifesta a total descrença num país aonde se sente desintegrada. O marido é ucraniano, mas ela ainda teimou em dar aos filhos uma educação bilingue até se render e lhes falar definitivamente na língua local. Apesar de lhe desagradar a vida de vendedora num mercado e lhe faltar a ilusão de um chefe, de um futuro.
A segunda escala é na Califórnia aonde Ella e o marido, igualmente russo, se tornaram nos mais prestigiados e bem remunerados oftalmologistas da sua cidade. E ela recorda como o projecto de sair da União Soviética já era muito antigo, recolhido do próprio pai que a levava a correr perto do estádio de Lvov e a procurava convencer de se aproximarem cada vez mais de Itália - o primeiro objectivo para a emigração - no final de cada treino.
Larissa também ficou na Ucrânia e subscreve o desencanto de Sveta. Aquela que fora a primeira aluna da escola a ousar a utilização da minissaia aceita a contragosto que a filha parta em busca de melhor vida para o estrangeiros, desde que não imite os rapazes seus conhecidos cuja participação na guerra do Iraque tinha por ambição angariarem dinheiro para o casamento e tinham regressado em caixões.
Com Vita compreendemos que a rodagem do filme ocorre durante a chamada Revolução Laranja, que levaria o fantoche dos americanos, Youchtchenko, à presidência. «Será que o Exército vai obedecer a este bandido?» questiona-se a antiga colega do realizador, que se exaspera com a falta de consciência política da filha, uma estudante de Direito.
Por não reconhecer precisamente a Ucrânia como identidade nacional independente Dima foi viver para a Rússia com o pai, um velho comunista ainda pejado de recordações da guerra contra os nazis. Para ambos o desprezo pelos compatriotas é absoluto: os ucranianos estariam nessa altura a viverem a dúvida de se curvarem ainda não sabiam a quem.
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