Já há muito o sabíamos mas, de facto, a América está longe de ser a terra das oportunidades. Que o diga Paul Auster após a conclusão da leitura do seu relato autobiográfico sobre os seus primeiros anos enquanto escritor («Da Mão Para a Boca»). É certo que se revelou avesso a empregos convencionais de horário e salário certo, mas as penas sofridas prolongaram-se anos a fio e puseram, inclusivamente, cobro ao seu primeiro casamento.
Valeram-lhe as traduções, os apoios do padrasto, a curta herança do pai e, sobretudo, a decisão de abandonar a poesia em favor da prosa em que se viria a distinguir.
A leitura desse relato de vida é aprazível e aqui e ali estimulada por algumas curiosidades: ter conhecido John Lennon, quando colaborava com um alfarrabista nova-iorquino, ou a humilhação de um fracasso rotundo na estreia teatral de uma das suas peças aonde outrora fora o atelier de Rothko, que ali se havia inclusivamente suicidado.
O que mais impressiona neste balanço de uma juventude é a capacidade do autor para se livrar da tentação de, através dele, se auto promover. Porque este é o percurso de um jovem imaturo e teimoso, que viria a ter a sorte de se tornar bem sucedido na sua busca de realização pessoal. Mas quantos como ele passam por idêntico afã de moldarem a realidade à sua maneira e acabam por partir literalmente os dentes?
Nunca chegaremos ao momento do sucesso, embora se possa inferir que ele iria surgir logo após os acontecimentos com que o livro se conclui. O de maior insucesso fica relatado no instante em que procurou vender a ideia de um jogo a um executivo na feira de brinquedos de Nova Iorque e é por ele agrestemente expulso do local.
Acaba-se por concluir que uma das razões para o sucesso posterior do escritor Paul Auster terá sido o sabor amargo do fracasso durante todos esses anos de maturação.
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