domingo, janeiro 06, 2008

A SOLIDÃO DE UM HOMEM CINZENTO

Porque terei gostado tanto de um filme, que aborda a história de uma organização merecedora da minha mais emotiva antipatia (a CIA)?
Primeiro que tudo, porque mostra, sobretudo, como uma adesão acrítica e assumidamente apolítica a uma organização tende a perverter o que de mais genuíno existe dentro de uma pessoa.
Se o protagonista Edward Wilson cultiva uma relação afectiva com uma jovem colega pensando até em desposá-la, logo um peculiar sentido do dever se imiscui e é com a irmã de um colega a quem provavelmente engravidara durante uma festa, que será a eleita para levar ao altar.
Terá estado nesse momento crucial da sua vida a definição de um padrão de comportamento futuro, que sempre prejudicará quem com ele convive: ao professor, que nele exaltara o gosto pela poesia, não hesita em denunciá-lo ao FBI como germanófilo e depois em colaborar no seu assassinato, quando as suas opções sexuais parecem representar um risco para a espionagem aliada durante a 2ª Guerra Mundial. A Margaret, que com ele casara, nunca conseguirá sequer facultar-lhe uma aparência de amor, quanto mais de simples afecto. A Laura, a surda a quem amara e voltará a dar a ilusão de uma paixão, reitera essa sua secundarização perante os valores mais altos da sua carreira. E até ao filho não hesitará em lhe matar a noiva por nela ver uma espia a soldo do inimigo.
Tratando-se, pois, de um filme sobre a CIA é, sobretudo a história de um homem cinzento, que comanda a história da sombra sem mostrar resquícios de escrúpulos.
E a embalagem em que o excelente argumento de Eric Roth vem embalado mostra como Robert de Niro se revela um verdadeiro mestre, acabando por se lamentar que a sua filmografia seja tão parca em títulos.

Sem comentários: