segunda-feira, janeiro 07, 2008

O LIBERTINO FOI-SE EMBORA

Na morte de Luiz Pacheco houve a oportunidade para ver um excelente documentário sobre o escritor, que fez da sua vida exactamente o que quis fazer. Contra si e contra todos.
Para trás ficou uma infância privilegiada na casa paterna, oriunda de uma certa aristocracia rural. Depois veio esse percurso de miséria, com mulheres sempre muito jovens por cujos ventres ia semeando filhos, que ia deixando ao deus dará.
O seu carácter irascível ia semeando inimigos entre os escritores da sua geração, tendo o Urbano Tavares Rodrigues como o de eleição.
Aos amigos ia tabelando de acordo com o dinheiro, que lhe iam dando. Amigos de dez, de vinte, de cinquenta (escudos), até um de quinhentos, que era o milionário Vinhas.
Em Braga, terra de arcebispos e do Estado Novo, entretém-se a engatar magalas em tempo de Guerra Colonial.
O mais grave terá sido o que fez padecer a um dos filhos em particular, aquele que fez questão de ter consigo nas suas vicissitudes. Hoje, chefe de gabinete na Câmara de Palmela esse homem interrompe a ironia sarcástica com que vai contando as histórias do progenitor e, com a tristeza de quem lembra o seu sofrimento passado recorda ter esgotado todas as suas lágrimas aos sete anos.
É que isto de ser irreverente, contra todas as regras sociais tem um preço muito pesado. E muitas vezes até nem são os próprios a padecer as maiores consequências.

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