O primeiro contacto com o Teatro Praga teve a característica fundamental, que um espectáculo deve apresentar: a capacidade de se mostrar diferente do que, comummente, se faz nos dias de hoje.
Se pretendemos combater a letargia, com que as rotinas nos procuram contagiar, é bom encontrar obras capazes de nos impressionarem, de nos comoverem ou de nos chocarem.
Com «O Avarento ou a Última Festa», o grupo de Pedro Penim, Cláudia Jardim, Paula Diogo e Marcello Urgeghe consegue seduzir-nos com a desconstrução do texto do Molière e mostrando como esta é uma época de grandes impasses ideológicos. De facto está em causa a substituição de uma forma estereotipada do Poder, personificada em Arpagão, o Forreta, que tudo pretende decidir sobre quem vive à sua volta.
Mas o curioso é como nada de bom sobrevém do derrube de tal Poder. Os filhos, que ocupam o seu espaço, e se apossam dos seus recursos, acabam por não encontrar forma alternativa de os utilizar, dissipando-os sem critério nem ordem.
A peça, que resulta muito do trabalho do grupo em torno da adaptação da autoria do José Maria Vieira Mendes, acaba por ser extremamente metafórica em relação ao tempo presente. É que, dispersos entre muitas imagens, que lhes são bombardeadas (num ecrã sucedem-se cenas de cinema catástrofe, no lado oposto o de vistas aéreas de monumentos e do interior de museus) os jovens de hoje não se conseguem focalizar em objectivos bem definidos.
O Amor poderia representar uma via possível, mas não tende a sexualização excessiva das relações humanas a impossibilitá-lo?
Mas não é só na casa de Arpagão, que se assiste ao derrube do Poder paternal: numa oficina os operários revoltam-se e tomam conta do negócio, mas assustam-se com o resultado dessa decisão e, ora afundam-se em depressões, ora em incapacidades para manter a funcionar a estrutura produtiva.
Se as educações modernas comprovaram a sua ineficácia, não preparando as novas gerações para substituírem eficazmente os mais velhos, também a classe operária ficou distante do seu prometido paraíso.
A conclusão ideológica a que se chega acaba por se revelar bastante ambígua. Embora, numa lógica marxista-leninista, se comprove a necessidade de uma força orientadora (o partido) para evitar as derivas de um percurso tendencialmente libertário.
Mas a peça não se esgota no seu eixo temático: para além de um desempenho exemplar de todo o elenco (e Romeu Runa, no papel de Cleanto, é de facto, uma revelação!) a cenografia revela-se flexível e muito adequada ao que se passará entre os seus múltiplos adereços. Com relevante contributo de tudo quanto se conota com o imaginário contemporâneo: os ecrãs, a piscina ou o automóvel…
Se pretendemos combater a letargia, com que as rotinas nos procuram contagiar, é bom encontrar obras capazes de nos impressionarem, de nos comoverem ou de nos chocarem.
Com «O Avarento ou a Última Festa», o grupo de Pedro Penim, Cláudia Jardim, Paula Diogo e Marcello Urgeghe consegue seduzir-nos com a desconstrução do texto do Molière e mostrando como esta é uma época de grandes impasses ideológicos. De facto está em causa a substituição de uma forma estereotipada do Poder, personificada em Arpagão, o Forreta, que tudo pretende decidir sobre quem vive à sua volta.
Mas o curioso é como nada de bom sobrevém do derrube de tal Poder. Os filhos, que ocupam o seu espaço, e se apossam dos seus recursos, acabam por não encontrar forma alternativa de os utilizar, dissipando-os sem critério nem ordem.
A peça, que resulta muito do trabalho do grupo em torno da adaptação da autoria do José Maria Vieira Mendes, acaba por ser extremamente metafórica em relação ao tempo presente. É que, dispersos entre muitas imagens, que lhes são bombardeadas (num ecrã sucedem-se cenas de cinema catástrofe, no lado oposto o de vistas aéreas de monumentos e do interior de museus) os jovens de hoje não se conseguem focalizar em objectivos bem definidos.
O Amor poderia representar uma via possível, mas não tende a sexualização excessiva das relações humanas a impossibilitá-lo?
Mas não é só na casa de Arpagão, que se assiste ao derrube do Poder paternal: numa oficina os operários revoltam-se e tomam conta do negócio, mas assustam-se com o resultado dessa decisão e, ora afundam-se em depressões, ora em incapacidades para manter a funcionar a estrutura produtiva.
Se as educações modernas comprovaram a sua ineficácia, não preparando as novas gerações para substituírem eficazmente os mais velhos, também a classe operária ficou distante do seu prometido paraíso.
A conclusão ideológica a que se chega acaba por se revelar bastante ambígua. Embora, numa lógica marxista-leninista, se comprove a necessidade de uma força orientadora (o partido) para evitar as derivas de um percurso tendencialmente libertário.
Mas a peça não se esgota no seu eixo temático: para além de um desempenho exemplar de todo o elenco (e Romeu Runa, no papel de Cleanto, é de facto, uma revelação!) a cenografia revela-se flexível e muito adequada ao que se passará entre os seus múltiplos adereços. Com relevante contributo de tudo quanto se conota com o imaginário contemporâneo: os ecrãs, a piscina ou o automóvel…
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