sexta-feira, janeiro 11, 2008

«FUR»: À DESCOBERTA DE DIANE AIRBUS

Bem pôde a família de Diane Airbus, nomeadamente a filha Doon, condicionar a divulgação da sua obra desde que ela se suicidou em 1971.
Bem procurou obstar à publicação da biografia não autorizada de Patrícia Bosworth, que fora seu modelo nos anos 60, ou à produção do filme de Steven Shainberg, que o traduziu em linguagem cinematográfica. («Fur, um retrato imaginário de Diane Airbus»).
Apesar de todas essas dificuldades, a obra da fotojornalista do «Esquire», do «The New York Times» ou do «Harper’s Bazaar», que se interessava, sobretudo, por pessoas à margem da sociedade ou pessoas comuns em poses enigmáticas, veio assombrar-nos através desse filme estranho, que mistura realidade e imaginário, e que constitui uma espécie de janela para a sua personalidade contraditória.
E não poderia haver, de facto, maior oposição entre a dona de casa e mãe de família, que conhecemos no início do filme e a fotógrafa audaz, que não hesita em se despir para fotografar os frequentadores de um campo de nudistas.
«Para mim o sujeito de uma fotografia é sempre mais importante que a própria fotografia. E mais complicado», dizia.
Por isso usava sempre uma Rolleyflex de dupla objectiva, que lhe garantia melhor resolução e o visor à altura do fotografado para dele se aproximar mais eficazmente.
É evidente que importa pouco se houve ou não um Lionel Sweeney na sua vida. Esse vizinho, acometido de estranha doença que o faz esconder o rosto invadido de cabelos de crescimento ultra-rápido por detrás de uma máscara e que a estimula a deixar de ser a mera ajudante do marido - ele próprio fotógrafo de moda - para assumir uma carreira própria, acaba por catalizar em si todos os estímulos, que a terão levado a abdicar do conforto da sua condição burguesa para se tornar na divulgadora de uma outra realidade.
Porque acabou por ingerir dose significativa de barbitúricos e cortado os pulsos, quando tinha 48 anos, que essa mudança esteve longe de sossegar as suas inquietações. Mas essa é outra história, que não coube no objecto do filme: nele houve o despertar para uma outra forma de encarar a fotografia. O que ela terá suscitado na sua personalidade fica por descortinar noutra possível abordagem…

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