sábado, outubro 18, 2025

Nova vida para a mandolina

 

Avi Avital não escolheu a mandolina por acaso — ou talvez tenha sido ela a escolhê-lo. Começou a tocá-la ainda criança, em Be’er Sheva, Israel, e desde então nunca mais a largou. O que poderia ter sido apenas um instrumento de iniciação tornou-se, com o tempo, o centro de uma missão artística: devolver à mandolina o lugar que lhe foi retirado na história da música erudita.

Durante séculos, a mandolina viveu entre salões aristocráticos e festas populares, com um pé na corte e outro na rua. Mas com o avanço da orquestra sinfónica e a canonização de instrumentos como o violino e o piano, foi sendo empurrada para os bastidores — associada ao folclore, à nostalgia, ao amadorismo. Avital, com uma mistura rara de virtuosismo e inquietação, decidiu contrariar essa tendência. Não por capricho, mas por convicção: há coisas que só a mandolina pode dizer.

Ao transcrever obras de Bach — como as Partitas e Sonatas para violino solo — Avital revela algo surpreendente: a mandolina, com clareza tímbrica e articulação precisa, parece mais próxima da sonoridade que escutava-se na época do compositor do que muitos instrumentos modernos. Sem vibrato excessivo, sem dramatizações românticas, o contraponto emerge limpo, quase como se Bach tivesse escrito a pensar nela.

Mas Avital não se limita a olhar para trás. Encomenda obras novas, colabora com compositores contemporâneos, mistura tradições mediterrânicas com técnicas modernas. A mandolina, nas suas mãos, não é apenas recuperada — é reinventada. E com isso, ganha uma nova voz: capaz de dialogar com o barroco, mas também com o presente.

O que Avital faz não é apenas tocar — é escavar, reconstruir, propor. E ao fazê-lo, convida-nos a escutar de outro modo: com menos preconceito, mais curiosidade. A mandolina, afinal, não é um instrumento menor. É apenas um instrumento que esperava por alguém que o levasse a sério. 

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