segunda-feira, julho 28, 2025

Uma viagem pela corrupção e desigualdade no México

 

"E a tua Mãe Também" é muito mais do que um "road movie" sobre o amadurecimento sexual de dois adolescentes. A verdadeira espinha dorsal do filme, e o que o torna tão marcante, é a forma como Alfonso Cuarón tece uma crítica social e política contundente ao México da viragem do milénio. A história de Tenoch, Julio e Luisa é uma lente através da qual somos forçados a confrontar as duras realidades de um país profundamente marcado pela desigualdade e pela corrupção.

A narrativa linear é constantemente interrompida por uma voz off que atua como um narrador omnisciente e, por vezes, cínico. Essa voz não se limita a contextualizar os eventos: desvia o olhar para o que está à margem, para a realidade que os protagonistas, na sua bolha de privilégio ou ingenuidade adolescente, ignoram. É aqui que o filme se torna um documento político: a voz descreve a pobreza rural, a violência dos cartéis de droga, a exploração dos trabalhadores, a corrupção generalizada da polícia e do governo, e as profundas divisões de classe que caracterizam a sociedade mexicana. Enquanto Tenoch e Julio preocupam-se com as suas conquistas sexuais, o narrador lembra-nos que, a poucos quilómetros de distância, pessoas vivem em condições de miséria extrema.

O próprio Tenoch é um símbolo da elite mexicana: o pai é um político de alto escalão, implicado em escândalos de corrupção. Esta ligação ao poder e à impunidade é um contraste gritante com a vida de Julio, de uma família de classe média, e ainda mais com a de Luisa, uma estrangeira que, apesar dos seus próprios problemas, consegue ter uma perspetiva mais distanciada sobre a realidade do país.

A jornada à procura da "Boca del Cielo", a praia mítica, pode ser vista como uma metáfora para a busca de uma utopia num país com profundas cicatrizes. Os protagonistas atravessam paisagens deslumbrantes, mas também aldeias esquecidas, estradas poeirentas e postos de controlo policiais que, em vez de protegerem, parecem extorquir. A inocência dos rapazes colide com a crueza da realidade que os rodeia, embora nem sempre se apercebam disso.

No final, "E Sua Mãe Também" não oferece respostas fáceis nem um final feliz para as questões sociais que levanta. Pelo contrário, sublinha a persistência dessas questões. A inocência pode ser perdida, mas as estruturas de poder e desigualdade permanecem. É um filme que obriga a olhar para além do romance e da aventura e enfrentar a complexidade e, muitas vezes, a tragédia de um país fascinante, mas ferido.

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