quarta-feira, julho 24, 2019

(DL) À beira de um lago rodeado de vulcões


É um dos mais secretos livros de Aldous Huxley, muito embora vão rareando os que consideraram «Admirável Mundo Novo» como uma das mais influentes leituras da respetiva adolescência. «Beyond Mexico Bay», publicado em 1934, é o que se segue àquele na vasta bibliografia do autor e tem por objetivo reportar a prolongada viagem pelo Caribe durante o ano de 1933, quando estacionou sobretudo no sul do México e na Guatemala. Nesta última a estadia em Panajachel, nas margens de um lindíssimo lago, situado a cerca de cem quilómetros da capital, levá-lo-ia a anotar: “Atitlan é o lago de Como embelezado por vários e imensos vulcões. É de uma beleza no limite do suportável”.
Mais do que a natureza interessam-no os descendentes dos antigos maias, que habitam a região. Acometido de angústias pelo significado do curso do tempo e da direção tomada pelas sociedades ocidentais, Huxley conheceu então um apaziguamento tanto mais sugestivo, quanto os maias instigavam-no a colar-se à perspetiva de não existir uma linearidade entre passado, presente e futuro, porque todos eles se confundem.
Não foi fácil chegar àquele fim do mundo: se hoje as vias de comunicação são razoáveis, nos anos 30 do século passado, só ali se chegava após morosa viagem de burro ou a pé. Mas, à beira dos quarenta anos, aquele inglês, oriundo de famílias abastadas, procurava abrir na mente alguma porta para uma espiritualidade, que entendia passível de lhe preencher o vazio existencial. Quiçá pelos mitos e lendas maias, alguma dessas aberturas se lhe revelasse.
O texto denuncia-lhe, porém, uma perspetiva de superioridade própria de um súbdito do moribundo império britânico. Surpreendeu-o a resiliência de um povo a quem os espanhóis haviam imposto a sua religião e correspondentes valores, mas lhes resistira com uma forma de sincretismo capaz de os associar aos mais devotos dos cristãos, ao mesmo tempo que se revelavam afinal os mais hábeis dos pagãos. A sobreposição entre os santos católicos e os antigos deuses maias resultou numa amálgama, que descansou as inquietações dos missionários cristãos e, ao mesmo tempo os ludibriou com notável eficácia.
Huxley não tardaria a estabelecer-se em Los Angeles, onde se converteria num dos mais bem pagos argumentistas da indústria do cinema, sem nunca mais se dissociar das experiências alucinogénas, que lhe possibilitariam vislumbrar as tais portas da perceção, que influenciariam Jim Morrison para vir a dar o nome ao seu mítico grupo de rock.

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