segunda-feira, julho 22, 2019

(DIM) O Amor em queda livre


Mirjam von Arx tinha 43 anos quando conheceu Herbert. Realizadora de cinema suíça, mormente conhecida por um documentário sobre os bancos de sementes guardados numa gruta norueguesa, sentia a falta de uma relação afetiva estabilizada pelo que recorreu a um site de encontros. Herbert, pareceu ser o tiro certeiro, mesmo no centro do alvo. Engenheiro de formação apenas o comprometia o hobby de saltar de falésias equipado com para-quedas. Mas o seu carácter identificava-se tanto com o dele que começou por não o olhar com reserva, fiada em ter encontrado resposta para as suas melhores aspirações. De repente viu-se a olhar para o futuro com uma confiança, que desconhecera até então. Mas as semanas seguintes viraram-lhe a vida do avesso: detetou-se-lhe cancro num dos seios, obrigando-a a uma cirurgia, comportando-se Herbert como o cúmplice que precisava para enfrentar o desafio. Só que, três meses depois do primeiro encontro, ele morreu num dos seus perigosíssimos saltos.
«Freifall - Eine Liebesgeschichte», filme de 2014, estreado dois anos depois dos acontecimentos, foi uma espécie de catarse para que pudesse seguir em frente, dando por concluída essa fase da vida. Por ele pretendeu compreender esse mundo do base junping, que assume tal dependência que o amigo com quem Herbert costumava replicar o voo dos pássaros, não evitou ver a mulher requerer-lhe o divórcio e garantir a guarda do filho de ambos. Ou o exemplo de um australiano, tido como um dos maiores especialistas mundiais da modalidade, testemunha da morte da namorada diante dos olhos e, entretanto, já com outra, que se arrisca a replicar-lhe o desenlace.
Marcado pelas tragédias, que reporta, o filme está longe de ser soturno. Mirjam quis perceber o que leva certas pessoas a hipotecarem a felicidade trocando-a pela adrenalina de porem a vida em risco com cada salto no vazio. E, no final, já grávida de outro parceiro com quem viu renascida a expetativa de uma conjugalidade feliz, sabe da importância de viver o mais plenamente cada dia sem se sujeitar a perigos insensatos porque para o encontro com a morte bem basta uma doença como a que teve e cuja sustentabilidade da remissão inquietá-la-á doravante.

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