domingo, dezembro 06, 2015

ROTEIROS: entre a arte flamenga e Escher

Sempre que vimos à Holanda é obrigatória a viagem no tempo, que resulta da visita a alguns dos seus museus.
Desta feita, em Haia, essa oportunidade foi suscitada pelo Mauritshuis, o museu com uma belíssima coleção de arte dos séculos XVI e XVII, instalada naquela que foi a casa do antigo governador da Brasil a mando da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
Não tendo a dimensão dos grandes museus de Amesterdão - o Rijks, o Van Gogh e o Stedelijk - esta casa de Maurício de Nassau deu-nos a oportunidade de termos ali à nossa frente «A Rapariga Brinco de Pérola» de Vermeer ou «A Lição de Anatomia do dr. Tulp» de Rembrandt, embora não faltassem também muitas obras de Rubens, Brueghel, van Dike, Jan Steen e outros grandes pintores da escola flamenga.
Olhando para os rostos dos retratados ou as cenas passadas na neve, nas lidas dos campos ou nas igrejas, foi inevitável a sensação de termos ali algo desse passado só conhecido dos livros de História, mas que correspondeu ao período áureo da história deste pequeno país.
A água, mais precisamente os mares e oceanos por onde navegaram os navios holandeses, está oportunamente presente num dos lados da Casa que, vista da perspetiva da praça adjacente, parece nela mergulhada.
Experiência diferente, mas igualmente aliciante, foi a vivida noutro museu distante do anterior apenas duzentos metros e onde pudemos apreciar a obra de um artista, que há muito apreciamos: Escher.
A coleção de obras está distribuída pelos três pisos do antigo palácio da Rainha Emma, que aqui viveu com Guilherme III nos finais do século XIX. Sobrevivendo-lhe, ela viveu até à morte neste palácio, pouco depois dos nazis terem chegado ao poder no país vizinho e futuro ocupante.
É claro que de Escher preferimos aquelas gravuras engenhosas em que há escadas a subir para baixo e passagens que se interligam em estranhas combinações onde não é possível adivinhar-lhes o início nem o fim. Mas todas as obras têm uma meticulosidade e um engenho, que nos obriga a olhá-las demoradamente para lhes captar tudo quanto nelas comportam.
O artista trabalhou intensamente as noções de perspetiva, ora colocando o ponto de fuga demasiado abaixo ou demasiado acima do centro da imagem. As deformações causadas pelos reflexos foram outras das experiências visuais, que explorou.
No último piso os criadores do museu proporcionam um espetáculo visual, que integra a mesma lógica da obra do artista, constituindo um bálsamo para os martirizados pés aqueles minutos sentados no pequeno anfiteatro a deixar os olhos perderem-se em efeitos com o seu quê de estroboscópico.
Da visita aos dois museus é fácil concluir que sem a dimensão dos seus congéneres de Amesterdão, Haia também possui excelentes argumentos para estimular as vivências de quem aqui aporta...


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