terça-feira, dezembro 01, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: O Acontecimento registado por Loznitsa

Um dos filmes exibidos no Porto/Post/Doc, que está agora a decorrer é «The Event», com que Sergei Loznitsa montou as imagens recolhidas em 1991, quando alguns dirigentes do Partido Comunista procuraram reverter a dinâmica criada pela glasnost de Gorbatchev.
Sobre a implosão da União Soviética estou muito distante do discurso oficial, inclusivamente do meu próprio partido. Porque acredito na existência de uma conspiração. provavelmente criada em Fort Langley, que começou por criar insurreições sucessivas nos diversos países do Pacto de Varsóvia para culminar na destruição da herança, mesmo que equívoca , do legado bolchevique.
O capitalismo internacional, com os seus múltiplos clubes de Bildeberg queria pôr fim à relação relativamente equilibrada de forças entre os seus títeres e os milhões dos que nada têm senão a força do seu trabalho, e que fora uma das mais significativas conquistas da social-democracia.
Para isso era importante acabar com o mito de uma Europa oriental onde os trabalhadores possuíam direitos inerentes a um Estado Social, que os seus parceiros ocidentais exigiam  através dos seus sindicatos. Não admira que, desde a queda do muro de Berlim, esses direitos tenham sido sucessivamente reduzidos e a relação dos salários entre os administradores e os administrados das empresas tenham conhecido um distanciamento cada vez mais obsceno. E, então, quando consideramos os dividendos dos acionistas, o escândalo ainda assume maior dimensão.
Tendo em conta que a nova orientação pró-capitalista dos antigos países de leste implicou dramas terríveis aos que “compraram” a ideia de um paraíso ocidental à sua espera, quando vejo os desfiles de tantos dos futuros desiludidos nas imagens de Loznitsa pergunto-me quantos desses rostos esperançosos ter-se-ão transformados em caricaturas marcadas pelo alcoolismo e a miséria. Porque o mais sinistro em toda esta maquinação capitalista, é conseguir que sejam as suas vítimas a servirem-lhes de exército batedor…
Essa é a grande interrogação, que me fica do filme de Loznitsa.

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