sexta-feira, outubro 16, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: Nas avenidas periféricas de Modiano

O Prémio Nobel da Literatura, ora me vai suscitando indiferença - como aconteceu este ano com a bielorrussa, que o ganhou -, ora me dá inesperadas alegrias como se verificou com a consagração de Patrick Modiano no ano transato.
Dado tratar-se de um autor, que há muito apreciava, esse Prémio demonstrou que, às vezes - como se viu com Saramago, Marquez, Le Clézio ou Grass - a Academia sueca acerta em cheio...


Com «As Avenidas Periféricas«, Patrick Modiano ganhou o Grande Prémio de Romance da Academia Francesa em 1972.
O narrador - que tomou como sua a identidade de Serge Alexandre - parte à procura do pai de quem já estava afastado há vários anos.
Reencontra-o numa pequena aldeia adjacente ao bosque de Fontainebleau, onde assumira o pseudónimo de Barão Chalva Deyckecaire.
Depressa se colcoa a questão: qual será a sua fonte de rendimentos? Serge não consegue esmiuçá-la, mas não é difícil suspeitar da sua ilicitude, tendo em conta o tipo de marginais com quem convive.
Um deles é Jean Muraille, que dirige o «C’est la Vie», um jornal político-mundano ferozmente antissemita e vocacionado para escândalos e pornografia.
Outro é o Conde Marcheret, que fora legionário em África e associa o alcoolismo ao seu comportamento obsessivo. Quando Serge contacta com o grupo, ele apresta-se a casar com Annie, a sobrinha de Muraille.
Maud Gallas e Sylviane Quymphe são as personagens femininas mais destacadas, ambas declaradamente experientes no mundo da prostituição.
Várias perguntas vão-se sucedendo na mente de Serge: será Deyckecaire um judeu acossado, disposto a tudo fazer no tráfico do mercado negro, conquanto os cúmplices o não denunciem?
Pela sua técnica narrativa, que ora debita factos, ora formula hipóteses, ora ainda se presta  a interpretações, o romance empurra o leitor para a incerteza, atiçando-lhe a vontade de saber mais, de descobrir a verdade.
Passar-se-á a intriga nos tempos da Ocupação? Tudo o indica, mas as certezas não são definitivas.
Fica uma evidência: a de um amor inconfessado do filho pelo pai, que se revela uma criatura patética na sua fraqueza. É o que faz de «Avenidas Periféricas» um romance sobre o que está morto e o donde se veio: as obsessões habituais em Modiano e que justificam sempre uma incontornável curiosidade quando abordamos as suas obras... 

http://www.ina.fr/video/I08059045


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