quinta-feira, agosto 06, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Trop belle pour toi» de Bertrand Blier

O que nos faz amar alguém?
No ano em que o muro de Berlim foi derrubado e se colocaram todas as questões, essa era apenas mais uma que motivava a atenção de muita gente. Tanta que «Trop Belle Pour Toi» de Bertrand Blier ganharia uma mão cheia de Césares, quando esta imitação do Óscar de Hollywood começava a consolidar a sua relevância. E não lhe faltou, igualmente, o Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes.
Na época Gérard Depardieu ainda não se tinha encanastrado tanto, quanto viria depois a tornar-se. E Carole Bouquet era uma das mais belas atrizes francesas, pelo menos o bastante para depois vir a ser uma Bond girl.
O argumento impunha a questão inicial através do personagem Bernard, que surgia como o patrão de um importante stand da BMW numa cidade do sul de França.
O espaço geográfico feito de sol, praias acolhedoras e reduto de lazer para endinheirados, colocava logo à partida um potencial inaproveitado quanto à implícita luta de classes em que se converteria o duelo amoroso subsequente.
Muitos dos amigos e conhecidos de Bernard invejavam-lhe a sorte de ter casado com a soberba Florence, mas não podiam imaginar que ele iria apaixonar-se, quase ao nível da paixão doentia, por Colette, uma escriturária temporariamente recrutada para a empresa, e cujo aspeto físico contrastava totalmente com a mulher do patrão. Será grande a surpresa de quem assistirá de fora a quanto os afetos podem alcançar o patamar da irracionalidade mais extrema!
E poderia Florence ficar indiferente ao ver-se preterida nos favores afetivos do esposo? Claro que não! Como conseguiria ela entender a opção de Bernard por uma mulher de dotes tão aparentemente vulgares?
Ao personificar essa estranheza, a princípio sobranceira, e progressivamente a descambar para a sensação de humilhação, Carole Bouquet ver-se-ia contemplada com o Prémio de Melhor Atriz Principal de 1990.
A crítica entusiasmou-se com o que considerou ser uma obra-prima por mostrar, tão frontalmente, a conjugação da violência com a sensualidade da paixão.
A distância temporal relativiza os elogios de então e tende a encaminhar o filme para o reduto das obras banais sobre triângulos amorosos, que escalpelizam o amor, a cólera, a dor e o despeito.
Na realidade Bertrand Blier, que parecia então vir a ser um cineasta de referência na filmografia contemporânea, nunca mais assinou obra de mérito incontestável, acomodando-se ao papel de realizador de filmes mais ou menos comerciais e com algumas pretensões de atingir a tal «qualidade francesa», que, em tempos, se constituiu como uma marca exportável. 

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