segunda-feira, fevereiro 16, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: Colaborar ou sobreviver ao nazismo?

A publicação de um novo título sobre assuntos já abundantemente estudados por outros autores só faz sentido se existirem aspetos novos merecedores de divulgação.
A deceção de um título como «Artists under Hitler - collaboration  and survival in Nazi Germany» de Jonathan Petropoulos é precisamente a de pouco trazer de novo a respeito dos intelectuais não judeus, que decidiram ficar na Alemanha  após a tomada do poder pelos nazis, crentes de nela não encontrarem o inferno previsto por outros bem mais previdentes (Fritz Lang, Marlene Dietrich, entre outros).
Optando por detalhar dez casos de artistas modernistas apostados em “acomodarem-se” ao regime , ele explica as razões de terem tomado tal opção:
- não quererem compreender a amplitude dos objetivos dos dirigentes nazis, até por os considerarem contraditórios entre si;
- atribuírem-se a si mesmos excessiva importância, julgando-se acima das contingências, que não tardariam a condicioná-los;
- possuírem o sentido de oportunismo ligado ao instinto de sobrevivência (o exílio reduzia a concorrência na apreciação dos seus potenciais admiradores);
- acreditarem na compatibilidade do nazismo e do modernismo, como sucedera em Itália com Mussolini, não prevendo virem a integrar a execrada «Arte Degenerada» “denunciada” pelo regime em 1937;
Petropoulos divide as suas abordagens segundo dois grupos: no primeiro os dos que começaram por se aproximar do regime e dele depois progressivamente se afastaram ou foram afastados: casos de Walter Gropius, Paul Hindemith, Gottfried Benn, Ernst Barlach e Emil Nolde. E os que apostaram na colaboração ativa e empenhada, como ocorreu com Richard Strauss, Leni Riefenstahl, Arno Breker e Albert Speer.
Após a guerra uns e outros tentaram negar ou disfarçar essas comprometedoras afinidades, mas quase sempre sem grande sucesso. Vide o caso patético da realizadora de «Olympia» e de «O Triunfo da Vontade».
Para além destes houve os que ficaram e tomaram posições firmes de oposição ao regime. Max PechStein, por exemplo, foi pescar para sobreviver, Oskar Schlemmer  empregou-se como pintor e viu-se, paradoxalmente,  encarregado de aplicar a camuflagem nos aviões da Luftwaffe. Mais absurdo foi o caso de Franz Ehrlich, um  antigo artista da Bauhaus e discípulo de Wassily Kandinski que, preso em Buchenwald desde 1935, projetou os portões do tristemente célebre campo de concentração.
Petropoulos também não esquece os que, mais do que colaboradores do Partido nazi, se evidenciaram na defesa do que ele teve de mais odioso. Um grupo, que não se limitou á cumplicidade com os crimes, mas antes os incentivou como necessários, e que incluiu Carl Orff (o compositor de “Carmina Burana”), a soprano Elisabeth Schwarzkopf, o cineasta Veit Harlan e os atores Werner Krauss e Emil Jannings.
A exemplo de outro  irremissível crápula  como foi o escritor francês Celine, continuo a acreditar na justeza da sua definitiva condenação ao opróbrio  por muito mérito que tenham tido as suas anteriores ou posteriores obras artísticas.
Do livro de Jonathan Petropoulos não sobram assim novidades de monta, já que a única verdadeiramente desconhecida foi a de Walter Gropius e Mies van der Rohe terem concorrido em 1933 ao concurso de arquitetura para o projeto do novo Reichtag, apesar de ambos estarem conotados com a proscrita Escola de Bauhaus. Mas é claro que os projetos de ambos foram rejeitados, ficando apenas para História a ingenuidade de pensarem na possibilidade de se verem promovidos s artistas do regime.

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