sábado, fevereiro 07, 2015

CINEMA DE FICÇÃO CIENTÍFICA: «Aelita» de Yakov Protazanov (1924)

Realizado em 1924, «Aelita» de Yakov Protazanov quase foi esquecido durante décadas até ser recuperado numa edição em DVD, que lhe garantiu o reconhecimento de se tratar de um dos primeiros filmes de ficção científica da História do Cinema.
Apesar de se não reconhecer ao realizador uma adesão convincente ao regime soviético - ao contrário de Eisenstein -  ou não tivesse ele optado por um exílio em França durante a fase mais acesa da Guerra Civil subsequente à vitória dos bolcheviques, também não havia quem lhe contestasse a experiência, que dele fizera um dos mais prolixos cineastas russos no período anterior à Revolução.
Terá sido essa competência, que  justificou a sua nomeação para filmar o romance homónimo do conde Alexei Tolstoi publicado em 1923.
No início do filme  há uma mensagem estranha recebida em todas as centrais de receção de sinais de rádio de todo o mundo. Ela é entregue ao engenheiro Los, havendo quem aposte provir de outro mundo.
Esse Los tem duas paixões na vida: uma é a esposa Natacha, que trabalha no centro de refugiados de Petrogrado e de Koursk , onde se concentram muitos dos que  fugiram da guerra civil ainda acesa nesse ano de 1921. A segunda é o foguetão em construção com que conta viajar até Marte.
Entre Los e Spirodonov,  seu sócio nesse projeto, existem  diferenças ideológicas evidentes: enquanto aquele demonstra ser um comunista convicto,  o parceiro é simpático, mas visivelmente contaminado pelo capitalismo. Não admira que, envolvido em fraudes com joias, seja vigiado pela polícia política, e escape para o estrangeiro para não ser apanhado. Doravante Los fica sozinho na construção do seu projeto.
Outro burguês com papel de destaque no filme é Viktor Ehrlich, que vem fugido de Petrogrado com a mulher, apresentada como sua irmã. Pode assim dedicar-se a seduzir e corromper as jovens esposas revolucionárias  como é o caso de Natacha.
Julgando que a amada o traíra, Los mata-a e embarca no foguetão a caminho de Marte. Irá ao encontro da rainha Aelita, cujo poder é mais aparente que real e por isso conspira para se tornar líder autocrática., vencendo o Conselho dos Velhos e libertando os escravos da vida sofrida, que lhes fora imposta.
De repente Los desperta e descobre que tudo quanto julgara viver era afinal um sonho. Dirige-se, pois, a casa onde encontra a mulher  disposta a perdoar-lhe os seus ciúmes doentios.
Em suma, temos um filme de propaganda sem verdadeiramente o ser, em forma de melodrama apesar de ter a intriga amorosa como subtema. Mas é sobretudo um excelente retrato de Moscovo nos anos de vigência do NEP, esse período dos anos 20 em que Lenine reprivatizou a posse das terras agrícolas, para recuperar colheitas tão abundantes como no tempo dos czares. Uma política a que Estaline poria cobro pouco depois...

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