Há uns anos atrás, quando a Academia de Hollywood quis recompensar Elia Kazan com um prémio de carreira, a maioria dos espectadores de tal cerimónia alinhou na homenagem, mas dois deles destacaram-se pela recusa a tal ignomínia, ficando ostensivamente de braços cruzados. Ec Harris e Nick Nolte mereceram desde então uma profunda admiração da minha parte por protagonizarem a única atitude decente para quem se destacara pela pior das cobardias durante a época da caça às Bruxas. De facto, Elia Kazan não só se declarara arrependido pela militância efémera no Partido Comunista norte-americano como se destacou pelo número de antigos amigos que denunciou e cuja vida ajudou a prejudicar.
O documentário de Peter Arkin sobre Dalton Trumbo resgata as memórias desse tempo e recorda como, mesmo nas piores alturas de anticomunismo houve gente de espinha direita, que soube dizer não. Mesmo pagando elevado preço pela ousadia de defender os princípios.
Agora à distância pode-se adivinhar o que um homem de família como era Trumbo terá sofrido por, na prisão ou fora dela, suscitar tantas provações à sua amada Cléo e aos filhos. Nomeadamente a Mitzi, a filha cujos colegas sujeitaram a doloroso bullying por pressão dos seus tenebrosos progenitores.
Ao fim de dez anos Hollywood rendeu-se ao talento de Trumbo, sobretudo porque gente digna como Kirk Douglas e Otto Preminger o exigiram para argumentista dos seus filmes.
Mas para muitos amigos e conhecidos de Trumbo já não houve tempo para recuperações: os suicídios foram muitos entre os que caíram na alçada de Macarthy, Reagan, Nixon e outros vilões...
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