O Holocausto já foi abordado de milhentas formas, sendo cada vez mais difícil encontrar ponta de originalidade em quem se abalança à revisitação desse fenómeno histórico.
Vera Belmont, realizadora francesa à beira da condição de septuagenária, decidiu-se a fazê-lo com recurso a um romance de Misha Defonseca, que começou por ser apresentado como autobiografia, mas se desmascarou depois como história completamente inventada.
Mas dos equívocos da autora do romance não tem culpa a realizadora: o seu projecto é pegar numa história extraordinária e vertê-la em imagens. Focalizando toda a sua atenção numa miúda de oito anos a contas com uma vivência heróica: a da personagem porque atravessa toda a Segunda Guerra Mundial e suas múltiplas ameaças sem perder a vida; a da jovem actriz, obrigada a um desempenho muito exigente…
Ao iniciarmos o filme, Misha ainda vive com os pais num bairro de Bruxelas aonde a ameaça vai pairando de uma forma cada vez mais insistente. Razão suficiente para a miúda votar um ódio quase visceral aos boches.
Um dia o pai não a vai buscar à escola e ela é recolhida por uma organização clandestina, que a confia a uma família muito renitente a aceitá-la a não ser pela retribuição regularmente paga pela sua protecção.
No entanto, quando esse pagamento deixa de ser feito, Mme Valle não hesita em denunciá-la à polícia.
Ela bem tenta recolher-se em casa do velho Ernest Leroy, que costumava fornecer documentos falsos e alimentos aos Valle, mas vê-o a ser levado pela milícia pro-nazi devido às suas actividades de falsificador.
Já os Alemães estão a sentir limites para a sua expansão no cerco a Estalinegrado, quando Misha fica entregue a si mesma, usando a sua liberdade para, recorrendo à bússola de Ernest se dirigir a Leste já que os pais terão sido levados nessa direcção.
Na floresta ela descobre, além da fome intensa, o seu estranho poder de comunicação com os lobos, seus companheiros circunstanciais nos anos seguintes.
Em 1943 já ela está em território polaco, conseguindo sobreviver graças a hábeis manobras de desenrascanço. Como o de beber leite directamente das tetas das vacas, quando as encontra num estábulo.
Vive momentaneamente numa tribo de outros miúdos entregues a si mesmos. Mas, mais lúcida do que eles, escapa da armadilha em que os vê serem capturados pelo Exército nazi.
Quem ela não consegue salvar é a alcateia em que se recolhe a seguir e quase por inteiro chacinada por caçadores. O sentimento de perda transparecido nessa altura é o da transferência do por ela vivido em relação aos seus desaparecidos pais.
1944 já a apanha na Ucrânia, quando o exército nazi está à beira da derrota. Recolhida por resistentes comunistas, ela vive um período quase idílico, em que se sente ternamente acolhida por aqueles admiradores de Estaline.
É no cinema onde se mostram imagens da libertação de Bruxelas, que Misha decide empreender sozinha o caminho de regresso.
Quando chega a casa no ano seguinte está exausta e em estado comportamental semi-selvagem. Ela acabará por ser recolhida por Ernest Leroy, o único apoio que lhe resta, já que dos pais nunca mais voltará a saber...
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