sábado, setembro 26, 2009

A DESDITOSA PÁTRIA DE SENA

A evocação de Jorge de Sena a respeito do regresso a Portugal dos seus despojos fúnebres depressa deu lugar ao esquecimento a que o escritor sempre foi votado no nosso país.
Várias foram as razões para, de forma breve, se ter interrompido esse voto de silêncio a seu respeito. Por um lado ele faria noventa anos em 2009 e, por outro, foi em 1959, que ele se exilou.
Mas, antes, já os seu livros de poemas vinham sendo proibidos pela PIDE, porquanto eram considerados «subversivos» e «pornográficos».
O Brasil é a primeira etapa da sua condição de exilado. Mas o golpe fascista de 1964 força-o a demandar os Estados Unidos.
De Portugal escreverá:

         Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
         Nem é ditosa, porque o não merece.
         Nem minha amada, porque é só madrasta
         Nem pátria minha, porque eu não mereço
         a pouca sorte de ter nascido nela.

A percepção do país a partir do exílio foi sustentando nele uma grande amargura a respeito de Portugal: «Os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninas, que nunca se libertaram do peso da mãezinha», como diria em memorável discurso no Dia de Portugal.
Segundo diria «a nossa história esteve sempre repartida entre o anseio de uma liberdade, que ultrapassa os limites da liberdade possível (ou seja, as liberdades dos outros, tão respeitáveis como a década um e o desejo de ter um pai transcendente, que nos livre de tomar decisões ou de assumir responsabilidades, seja ele um homem, um partido ou D. Sebastião».

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