É verdade que ao longo do ano vamos assistindo a muitos bons espectáculos teatrais ou musicais. Mas, já no último terço do ano, tenho para comigo a convicção de ter acabado de assistir ao melhor de entre os que pude ver ao longo deste 2009. E, em vez de o apreciar ao vivo, foi através do canal ARTE, que ele se fez disponível. Trata-se de «Os Sonetos de Shakespeare», ópera levada à cena no Berliner Ensemble numa dramaturgia de Jutta Ferbers, encenada por Bob Wilson e musicada por Rufus Wainwright.
Sabemos bem como está esgotada, de forma pueril, a palavra «fantástico» para definir algo de muito bom. Mas este é dos escassos exemplos, que deveria fazer jus a tal expressão. Porque os textos são superlativos na forma como se interligam ao abordar maioritariamente o amor nas suas diferentes vertentes, seja nas felizes, seja nas infelizes, sem esquecer as relações de poder que a tudo preside. A colori-los há a contar com uma belíssima encenação, que conta com uma caracterização dos actores em cujos rostos embranquecidos foram desenhados vigorosos traços a negro acentuadores das suas sucessivas expressões e com um trabalho de luminotécnia capaz de vestir o cenário sem qualquer outro adereço. Mas, quando os utiliza, Bob Wilson remete claramente para a pintura abstracta de Mondrian ou para o simbolismo surrealista de Magritte.
Há a contar, igualmente, com a música de Rufus Wainwright, definitivamente um dos mais interessantes criadores contemporâneos nessa área criativa. Aliando a pop à canção de cabaret de Kurt Weill, sem esquecer uma vertente mais minimal repetitiva, ele enriqueceu todo o lado visual do espectáculo com uma tecedura sonora digna dos maiores elogios.
«Os Sonetos de Shakespeare» é exuberante na capacidade para associar os diversos estímulos num espectáculo, que conta com interpretações merecedoras dos mais entusiásticos adjectivos.
O problema ao abordar uma obra assim é já terem-se esgotado os elogios noutras de menor valia, não sobrando expressões ainda mais vibrantes para aplicar a esta...
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