Já não me recordo em que sala lisboeta o vi pela primeira vez. Tenha sido no Apolo 70, no Caleidoscópio ou no Estúdio do Império, foi decerto em espaço já apenas reservado na memória de quem, nos idos anos 70, se assumia numa cinefilia interessada pelos títulos clássicos do grande cinema soviético.
E este era decerto um dos mais deslumbrantes, apenas ultrapassado pelo verdadeiro monumento cinematográfico, que seria «Ivan, O Terrível». Agora é um dos muitos, que aguardam na minha cinemateca particular a oportunidade para ser reapreciado. Com outra maturidade que, então, mal saído da adolescência, ainda não possuía.
O filme data de 1938 e correspondia a encomenda de Estaline como ferramenta de propaganda contra a ameaçadora Alemanha nazi. Por isso não se olhou a meios, possibilitando ao realizador a sua primeira obra sonora.
O tema era elucidativo: evocar a grande vitória do Príncipe Alexandre, quando a terra russa se viu invadida pelos cavaleiros teutónicos em 1549. O que correspondia a um aviso a Hitler, bem explícita na legenda final: «Quem vier com a espada morrerá pela espada».
Mas, para além dessa temática histórica, que servia de metáfora para uma abordagem ideológica da situação política de então, o filme é uma ópera grandiosa servida pela música de Prokofiev e com um esplendor plástico baseado na organização das suas linhas, das suas figuras e dos seus sons. Nomeadamente a batalha final, que por muito confusa nos pareça, associa os sons das armas, os gritos e as imprecações numa sinfonia visual culminada pela cena memorável do cavaleiro a afundar-se nas águas geladas do lago Peipous.
E não falta, enfim, a grande característica do realizador: essa movimentação coordenada dos milhentos figurantes, que além de dar um sentido colectivo à mensagem, possui um efeito estético superlativo.
Vemos, ouvimos, lemos e experimentamos. Tanto quanto possível pensamos pela nossa própria cabeça...
quarta-feira, setembro 02, 2009
«Alexander Nevsky» de Eisenstein
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