quinta-feira, junho 18, 2009

«London River» de Rachid Bouchareb

Infelizmente é assim: há filmes de um humanismo comovente - mesmo que muito depurado na forma como explicita as suas emoções - e que não chegam sequer ao mercado português. Há tanta porcaria vinda dos estúdios norte-americanos, que é prontamente esquecida tão-só os seus espectadores saem da sala escura e exemplos destes, passíveis de sugestionarem positivamente um público alargado nem sequer é considerado como oferta possível.
«London River» tem uma história singela: em Julho de 2005, na sequência do atentado terrorista, que desnorteia a capital britânica, duas pessoas de origens muito distintas cruzam-se e acabam por se encontrar nas ruas da cidade.
Elizabeth é uma viúva da guerra das Malvinas, que procura a filha Jane, Ousmane é um velho africano há muito radicado em França, que vem à procura do filho. Um e outro sabem muito pouco sobre o que era o dia-a-dia dos seus rebentos e por isso olham-se com estupefacção ao descobrirem-se muito mais próximos do que julgariam: os jovens viviam juntos e frequentavam as aulas de árabe numa das mesquitas da cidade. Se os pais viviam em caldos de cultura quase antagónicos, os filhos já tinham dado os passos necessários para um encontro de civilizações em que as diferenças passaram a ser motivo de curiosidade, de aproximação.
O tema do filme não tem, pois, a ver com o terrorismo em si: ele funciona como pano de fundo para aquilo que mais interessa a Rachid Bouchareb demonstrar. E o que vemos é uma sociedade ainda atordoada pela dimensão da tragédia, mas em que a solidariedade assume uma dimensão concreta.
Se os dois forasteiros acabarão por sair desalentados da sua episódica visita, porquanto acabam por confirmar os seus piores receios, a experiência tê-lo-á enriquecido pela constatação prática em como, apesar de diferentes serem as suas cores da pele, as suas línguas maternas ou as suas tradições, une-os a mesma preocupação, e nisso são absolutamente iguais.
«London River» permite ainda confirmar o que já se sabia dos seus actores principais: quer Brenda Blethyn, quer Sotigui Kouyaté credibilizam o projecto do realizador sendo perfeitamente verosímeis nos seus desempenhos.

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