quarta-feira, janeiro 21, 2009

EXPULSEM O DEMÓNIO

Em Nova Orleães testemunhamos a mobilização dos habitantes de um dos seus devastados bairros para salvarem a paróquia, que constitui o símbolo dos que sempre são esquecidos.
Em «Shake the Devil Off», o realizador Peter Entell ilustra esse combate colectivo alimentado pela fé, pela cólera e pela música.
Quando somos convidados a entrar no bairro de Treme, o furacão Katrina já quase o destruíra seis meses atrás. A maioria dos seus habitantes perdeu pelo menos um membro da sua família, para além da casa ou do emprego. E a revolta omnipresente tem a ver com o abandono das autoridades que, em Agosto de 2005, falharam rotundamente na organização da evacuação da população e na urgente ajuda às suas necessidades.
Quem não poupou esforços para apoiar os seus desnorteados paroquianos foi o padre Jerome LeDoux, que lhes transmitiu o sentido da esperança. Ora, quando o bispo decide transferir o padre e fechar a paróquia, subitamente reduzida na sua importância pela fuga de muitos dos seus antigos fiéis, o bairro revolta-se. De imediato gente de todas as cores e confissões - incluindo as dos ritos africanos - reúnem-se na igreja disposta a resistir. Tanto mais que não estavam longe do local aonde, no século XIX, brancos e negros se reuniram em conjunto pela primeira vez para louvarem o Senhor.
Também por ali terá nascido o jazz, sempre ali presente em todos os cantos do bairro e até durante a missa.
Estão criados os condimentos para uma revolta apoiada por voluntários vindos de todas as direcões.
O realizador Peter Entell é um norte-americano radicado na Suiça, que filmou este documentário a convite de uma das suas amigas residentes no bairro em causa. Adoptando os melhores enquadramentos, Entell mostra-se cúmplice de um quotidiano trepidante onde lágrimas e risos podem perfeitamente coexistir enquanto antídoto aos traumas causados pelo furacão.
À indiferença do Bispo e do Governo Federal os revoltosos de Treme respondem com um hino de luta, cujo título é o do próprio filme. Entell confessa pouco ter realizado de acordo com o seu planeamento prévio, já que a Equipa entregou-se completamente ao turbilhão de acontecimentos do qual resgata momentos de eleição: como quando o padre LeDoux transita pelo cemitério aonde deverá dar missa.

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