sábado, janeiro 17, 2009

COM A GUERRA DE GAZA POR FUNDO

Como será o país daqui a uns anos? Se tempos houve em que tudo pareceria encaminhar-se para a resolução de muitos dos nossos atrasos e para a garantia de um tempo mais bonançoso, sucessivas crises importadas de fora e sem grande ajuda de quem, internamente, mais deveria lutar por esse objectivo, está a incrementar uma cultura de pessimismo para a qual não parece haver paliativo. Até um comentador de assuntos económicos comedido como o é Daniel Amaral aposta no advento de crises maiores:
Um país em exclusão social, onde a juventude não tem esperança, a família não se desenvolve e a população envelhece - um país como este é um barril de pólvora. A pobreza desperta situações de revolta, a fome é má conselheira e os desesperados não têm leis. Um país como este precisa de uma gestão com pinças, porque o mais pequeno descuido pode redundar em desgraça.


***


Nos jornais vão surgindo comentários políticos sobre a Guerra em Gaza, muitos dos quais procuram legitimar o inimaginável: os crimes contra a Humanidade, que o poder sionista está a executar, matando gente encurralada numa exígua prisão territorial.
Acostados ao apoio da Casa Branca e de alguns governos europeus, que lhes servem de cúmplices nesse genocídio, os israelitas há muito perderam a legitimidade moral a eles conferida na condição de vítimas da barbárie nazi. Hoje são eles os bárbaros, que violam as mais elementares regras civilizacionais. E que mais contribuem para a justificação de outra forma de barbárie não menos odiosa: a dos fanáticos integristas, que se substituem aos políticos laicos um pouco por todo o mundo muçulmano.
É o insuspeito António Vitorino quem acaba por reconhecer numa das suas crónicas, que Israel não pode aspirar a sustentar as suas razões perante um cenário de verdadeira catástrofe humanitariamente, que deliberadamente está a provocar.


***


Num documentário sobre a vida animal, o apresentador pondera no dilema moral de nos colocarmos ao lado do gnu acabado de caçar ou da leoa para quem essa carne garantirá a sobrevivência das suas crias.
Tal como no respeitante aos israelitas e aos palestinianos, ambos os lados têm as suas razões. Deverá ser terrível para a vítima sentir os dentes do carnívoro a apertarem-se nas suas goelas. Mas Tamu, a leoa em causa, já está tão fraca, que aquela presa será porventura a derradeira possibilidade de sobrevivência, quer de si, quer das três crias a quem já salvou de outras ameaças.
Impossível, pois, não tomar partido por um dos lados. No documentário em causa a simpatia do apresentador está com a leoa. No caso da Guerra em Gaza estou, obviamente, com as vítimas contra o seu predador sionista…


***


A mais absurda irracionalidade está demonstrada num documentário televisivo dedicado à cultura da vingança na Albânia. Vigorando a regra do «olho por olho, dente por dente», as famílias vão-se matando entre si para comprovarem a sua honra e se mostrarem à altura dos que morreram violentamente.
Há uma freira, que se desloca num permanente corrupio de contactos para desarmar a raiva nos corações, mas o seu esforço parece fútil perante um tal peso das tradições.
E, no entanto, compreende-se facilmente, que iniciado um ciclo de morte entre duas famílias, ele jamais se concluirá … a não ser quando nenhum restar.

Sem comentários: